Após o prefeito Nelson Marchezan Jr. ter afirmado, no início da semana, que pretende “engatar a primeira marcha do trator que vai derrubar o muro da Mauá”, o vereador Idenir Cecchin, do MDB, disse hoje que vai desengavetar um projeto de 2010 que trata da questão.
À época, o legislador propôs à Casa a retirada da estrutura, mas o projeto acabou arquivado. “Por uma série de ‘nãos’, já que em Porto Alegre temos mais ‘nãos’ do que ‘sins'”, criticou o parlamentar, em entrevista para o Direto ao Ponto.
Cecchin afirmou ainda que “ficou feliz” com a intenção do prefeito em defender a derrubada do muro, “para que se integre a cidade com o cais Mauá”. Ele acrescentou que é preciso fazer uma discussão “séria e honesta sobre o tema”, e que há outras alternativas para o muro.
“Certamente hoje nós temos sistemas de proteção de enchentes muito mais eficientes do que esse muro, que divide a cidade”, acrescentou. Questionado se acredita em maior apoio popular e também respaldo dos colegas da Câmara, o vereador afirmou que sim: “já discuti com vários vereadores, eles estão dispostos a discutir a questão. A cidade quer conviver com o cais”, ponderou.
Muros e grades
“Então erguemos muros que nos dão a garantia de que morreremos cheios de uma vida tão vazia”, cantaram os Engenheiros do Hawaii, em 1991, quando o controverso muro da Mauá já tinha 17 anos de presença no coração de Porto Alegre.
Concluída em 1974, a construção da estrutura teve como justificativa proteger a cidade contra enchentes, como a de 1941, que entrou para os livros de história como a mais grave dos 247 anos da Capital.
O prefeito Nelson Marchezan Jr, em pronunciamento na segunda-feira, reafirmou o desejo de derrubar a estrutura e devolver o contato da cidade com o Guaíba: “eu vim aqui por causa do muro, por causa dos muros. Quantos muros nós temos aqui na cidade de Porto Alegre?”, questionou.
A fala do prefeito se alinha com a canção. Enquanto Humberto Gessinger segue cantando que “o medo nos leva a tudo, sobretudo a fantasia/então erguemos muros que nos dão a garantia”, Marchezan afirmou que “os muros nos protegem dos nossos medos”, e acrescentou que “nós não temos vida ao redor dos muros, porque eles barram a vida, as ideias e os relacionamentos”.
O chefe do Executivo reforçou, ainda, que “onde foram colocados muros, pra nos proteger dos nossos medos, os índices de criminalidade são maiores”. Também era o que diziam os Engenheiros: “meninos de rua, delírios de ruína/violência nua e crua, verdade clandestina”.
Poesias à parte, Marchezan deu a entender que quer agir em concreto: “quando foram me apresentar, em 2017, eu disse que eu quero dirigir o trator e engatar a primeira marcha pra derrubar o muro da Mauá. A gente precisa derrubar os muros da cidade de Porto Alegre”, afirmou.
As declarações foram dadas durante cerimônia de inauguração do Cais Embarcadero, parte integrante do chamado “Marco Zero” da revitalização do Cais Mauá. Vale ressaltar, no entanto, que essa etapa, cuja parceria é de quatro anos, e não resolve o imbróglio com a empresa Cais Mauá, responsável pelas obras de restauro desde 2010, mas que – por uma série de motivos – ainda não saíram do papel e correm o risco de ter o contrato rescindido.
Marchezan também usou o eufemismo “caranguejos” para se referir a grupos de pessoas que se opõem ao avanço de muitos projetos da cidade. “A Prefeitura de Porto Alegre tem papel limitado, mas importante, na questão do Cais. Em 2017, respeitando o trabalho de todos os outros que passaram pela Prefeitura, conseguimos dar a primeira licença para as obras”, afirmou, declarando ter interesse em resolver, em definitivo, a questão das obras de revitalização.