A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) defende que a Polícia Civil investigue a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, que teve o carro da família atingido por mais de 80 tiros de fuzil, em Guadalupe, zona norte da capital fluminense. A presidente da comissão, deputada estadual Renata Souza (PSol), propõe que a investigação seja conduzida pela Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro. Ela também vai oficiar os ministérios públicos Militar (MPM) e Federal (MPF).
As investigações foram transferidas da Polícia Civil para o Exército, com base na Lei 13.491, assinada pelo então presidente Michel Temer, em 2017.
Nas redes sociais, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse apoiar a iniciativa de Renata Souza. “Exigimos a investigação e responsabilização dos envolvidos. Casos como esse mostram como políticas de segurança baseadas no confronto, letalidade policial e no afrouxamento da investigação e responsabilização são nefastas. Elas apenas nos fazem caminhar rumo à barbárie.”
Militares presos
O Exército determinou hoje a prisão de dez dos 12 militares que compunham a guarnição envolvida em disparos contra o carro. De acordo com o Comando Militar do Leste (CML), eles foram presos em flagrante por descumprimento das regras de engajamento.
De acordo com o CML, foram constatadas inconsistências entre os fatos inicialmente reportados pelos militares envolvidos e as informações que chegaram posteriormente ao Exército.
As prisões foram determinadas depois de depoimentos dos militares envolvidos no episódio à Delegacia de Polícia Judiciária Militar e ao Ministério Público Militar.
Inicialmente, o CML informou que a guarnição, ao circular pelo bairro de Guadalupe, se deparou com um assalto, sofreu um ataque criminoso e, por causa disso, atirou. Segundo essa primeira nota divulgada na tarde de ontem pelo Exército, o homem que morreu e o que ficou ferido eram “assaltantes”. Uma terceira pessoa, um pedestre, foi atingido durante o tiroteio, segundo ainda a primeira nota do Exército.
A Polícia Civil, no entanto, depois de fazer uma perícia no local, informou que não havia assaltantes no carro e que as duas vítimas eram integrantes da mesma família: Evaldo, que levou três tiros e morreu na hora, e o sogro, Sérgio Gonçalves de Araújo. Também ocupantes do automóvel baleado, a mulher de Evaldo, o filho do casal, de 7 anos, e uma amiga da família, não sofreram lesões. O segundo ferido é um homem que tentou socorrer a família e levou um tiro no peito.
De acordo com a última nota divulgada pelo CML, os militares presos estão à disposição da Justiça Militar.
Viúva relata o ocorrido
Em estado de choque, a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo, disse que a família percorria o local com frequência e que sentiu-se segura ao observar a presença do Exército.
“Por que o quartel fez isso? Eu disse, amor, calma, é o quartel. Ele só tinha levado um tiro, os vizinhos começaram a socorrer. Eu ia voltar, mas eles continuaram atirando, vieram com arma em punho. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: ‘Moço, socorre meu esposo’. Eles não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e rindo.”
Aos prantos, a viúva disse que preferia ter morrido ao lado do marido, com quem era casada há 27 anos. “Eles me deixaram e mandaram eu correr. Eu tinha que ter ficado para morrer com ele, eu e meu filho”, disse. “Ele [o marido] era meu melhor amigo. Meu filho estava no carro, eu dei calmante para ele, ele viu tudo”, afirmou a técnica de enfermagem.
Luciana Nogueira informou que Evaldo era músico e trabalhou como vigilante, mas perdeu o emprego há dois anos.