Com medo de ameaças, Jean Wyllys desiste de mandato e deixa o Brasil

Deputado federal reeleito está no exterior, de onde garante que não retorna 

Deputado federal eleito pela terceira vez consecutiva, Jean Wyllys (PSol-RJ) revelou, em uma entrevista à Folha de S.Paulo, publicada no site do jornal nesta quinta-feira, que, devido a ameaças que vem sofrendo, desistiu do mandato e está deixando o país para se dedicar à vida acadêmica.

“Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!”, publicou o parlamentar, no Twitter, também hoje.

O deputado se tornou desafeto público do presidente Jair Bolsonaro desde a sessão que culminou com a aprovação da admissibilidade do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), na Câmara dos Deputados, em 2016. Depois de discursar e fundamentar o voto contra, Wyllys cuspiu em direção a Bolsonaro, dizendo ter sido vítima de xingamentos e provocações anteriores. No mesmo dia, ao votar, o atual presidente da República defendeu o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como torturador durante a ditadura militar.

“Essa não foi uma decisão fácil e implicou em muita dor, pois estou com isso também abrindo mão da proximidade da minha família, dos meus amigos queridos e de quem gosta de mim e me queria por perto”, explicou Wyllys à reportagem da Folha.

O deputado citou Bolsonaro e disse que não se imagina vivendo no País até o fim do atual mandato. “O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, disse. Wyllys revelou, ainda, que, está fora do Brasil e garantiu que não pretende retornar. “Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sob escolta?”, questionou.

Twitter

Oficialmente, Bolsonaro não se manifestou. O presidente, no entanto, durante a viagem de retorno de Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Social Econômico, postou figurinhas que sugerem relação com a decisão de Jean Wyllys: nessa ordem, a frase “Grande dia!”, uma bandeira do Brasil, um sinal indicador, um de positivo e um avião decolando.

A uma dessas postagens, o suplente de Wyllys, David Miranda (PSol-RJ), respondeu: “Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”.

Já o deputado federal eleito Marcelo Freixo (PSol-RJ), replicou a um dos tuítes do presidente: “Que tal você começar a se comportar como presidente da República e parar de agir como um moleque? Tenha postura”, escreveu.

No fim da tarde, Bolsonaro postou o título de uma matéria do jornal O Globo, cita as mensagens anteriores, e escreveu: “Fake News! Referi-me à missão concluída, reuniões produtivas com Chefes de Estado, voltando ao país que amo, Bolsa batendo novo recorde na casa dos 97.000 e confiança no nosso país sendo restabelecida, isso faz de hoje um grande dia!”