A Polícia Civil abriu um inquérito, nesta sexta-feira, para apurar uma ameça de morte com ataques a tiros relatada por um grupo indígena que mora em uma área da fazenda Arado Velho, situada no bairro Belém Novo, na zona Sul de Porto Alegre.
Em depoimento, um dos caciques informou que, nessa madrugada, dois homens armados foram até o local e fizeram disparos para o alto coagindo o grupo a desocupar o terreno, na orla do Guaíba, até o próximo domingo. Quase 30 indígenas residem na chamada Retomada Mbya Guarani.
Responsável pelo início das investigações, o delegado substituto da 7ª Delegacia de Polícia, Luciano Coelho, solicitou reforço policial da Brigada Militar para assegurar a integridade dos ocupantes da área.
“Eles efetuaram disparos de arma de fogo para cima e não em direção a eles e ainda ameaçaram os índios falando que eles devem deixar a área até domingo. Os policiais estiveram lá e recolheram cápsulas de pistolas no local. Agora, eu vou comunicar a Brigada Militar para fazer o policiamento ostensivo neste final de semana e meu pessoal (policiais civis) também vai dar uma passada lá. Vamos instaurar inquérito para apurar a veracidade dos fatos”, ressalta.
O terreno fica ao lado de uma propriedade privada da Arado Empreendimentos Imobiliários Ltda.. Os autores dos disparos, segundo os caciques, são vigias da empresa. O delegado também procura esclarecer quem é o real detentor do terreno ocupado.
Já o coordenador do Conselho Indigenista Missionário regional Sul, Roberto Liebgott, explica que o próprio Poder Judiciário ainda discute se o entrave vai ficar a cargo da Justiça federal ou comum. Os índios, porém, permanecem no local por força de uma liminar judicial.
Durante a tarde de hoje, lideres indígenas foram até o Ministério Público Federal (MPF) comunicar o crime. “Durante as ameaças, eles ainda alegaram que, agora, o Brasil vive um novo período com um novo presidente, em que se pode, através dos próprios proprietários das áreas exercer o poder de polícia”, detalha Liebgott, com base nos relatos da tribo. Os guaranis vivem no local, desde junho de 2018, depois de terem sido retirados de uma outra área, reivindicada pelo grupo como terra indígena.
O que disse a empresa
Em nota, a Arado Empreendimentos Imobiliários Ltda. questiona o teor das informações divulgadas na imprensa e redes sociais e garante que disparos não foram ouvidos pelos funcionários da fazenda, detentora do terreno (veja o comunicado, na íntegra, abaixo).
A reportagem contatou a Procuradoria da República no Rio Grande do Sul, mas ainda não recebeu retorno.
Confira a nota na íntegra
Na manhã desta sexta-feira (11), chegou ao nosso conhecimento, pela imprensa e mídias sociais, um suposto incidente envolvendo a comunidade indígena que invadiu a Fazenda do Arado.
Nunca tivemos e nunca teremos qualquer iniciativa nos moldes do que está sendo divulgado. Pelo contrário, ao longo deste processo, iniciado em junho de 2018, e não obstante as investidas contrárias de cunho nitidamente ideológico e político, estamos buscando exercer nossos direitos na justiça e sempre nos limites da legalidade. Assim seguiremos.
Estamos buscando informações acerca do que possa ter ocorrido e se efetivamente ocorreu, registrando que os funcionários da Fazenda não ouviram qualquer barulho anormal durante a noite.
Por ser proprietária da área e ofendida diante da invasão ilegal que está em curso, a empresa é a maior interessada na elucidação dos fatos e na verificação acerca de efetivamente ter ocorrido algum incidente análogo ao que vem sendo divulgado.
Arado Empreendimentos Imobiliários LTDA