Após 2018 sem desfiles, carnaval deste ano em Porto Alegre fica para março

Após cortes de verba por parte da prefeitura, o evento não foi realizado no ao passado e virou dúvida

Carnaval será realizado nos dias 15 e 16 de março, no Porto Seco | Foto: Alina Souza/CP

“Mesmo que pequeno, vai ter Carnaval”. Essa é a frase proferida em uníssono pelos presidentes das seis escolas do Grupo Ouro de Porto Alegre a respeito do até então incerto desfile de Momo em 2019. Após cortes de verba por parte da prefeitura, o evento não foi realizado no ao passado e virou dúvida novamente, mas está confirmado para os dias 15 e 16 de março, no Porto Seco, zona Norte da Capital.

Em coletiva de imprensa, os presidentes das escolas reforçaram o entendimento de que o mais importante é manter a tradição do desfile, “nem que seja com cadeiras de praia e cordinha na calçada”, brincou Nilton Deoclydes Pereira, presidente da Bambas da Orgia, anfitriã da coletiva de imprensa realizada nesta manhã. Pereira lamentou a ausência de recursos públicos mas ressaltou a busca por verbas junto a iniciativa privada e outras formas de fomento. Garantiu que 100% do Carnaval 2019 será feito com recursos próprios, tanto dentro como fora dos barracões.

Érico Leoti, presidente da Imperadores do Samba, reforçou que os problemas financeiros são conhecidos e que as escolas “buscaram incessantemente esses recursos”. Lamentou que no ano passado as parcerias não foram alcançadas, mas que o contexto fez com que buscassem outras formas de fomento. A partir disso foi decidido colocar camarotes à venda para alcançar os cerca de R$ 160 mil para bancar estrutura de som, luz, arquibancadas móveis e demais infraestrutura.

Até agora, não há um centavo arrecadado. “Tudo isso vai depender da parceria das Escolas de Samba com seu público, com sua comunidade. Dependemos disso para viabilizar essa estrutura”. Negociações com empresas privadas estão em andamento, mas não foram consolidadas: “quem gosta de nós somos nós, já diz o samba. Vamos atrás para daqui alguns anos voltarmos a ter a liderança que tínhamos”, finalizou Érico.

A venda dos camarotes vai começar no dia 21 de janeiro nas Faculdades Anhanguera, no campus Centro. Nenhuma negociação com a iniciativa privada foi fechada, mas o presidente reforça aos presentes que “a busca pelos recursos tem que começar é vir de nós”. Érico reforçou que segue dialogando com a prefeitura para que esta dê aval junto com esse empresariado, a fim de receber algum tipo de suporte ou parceria.

O desfile

Será competitivo, com sete categorias e três obrigatoriedades: estandarte, passistas e tempo de desfile. O foco será no “chão”, sem obrigatoriedade de alegorias. A bateria, por exemplo, também não terá mais número mínimo de ritmistas, já que envolve grande recurso financeiro. Serão três jurados por quesito para 6 escolas do Grupo Ouro, 8 do Prata mais Fidalgos e Aristocratas e a Tribo Comanches.

A divisão por dias de desfile não será por categorias, e vai misturar as escolas do Grupo Ouro e Prata. A ordem dos desfiles será definida no dia 25 de janeiro, na quadra da Imperatriz D.Leopoldina. Não haverá, também por questões financeiras, as tradicionais “descidas da Borges”, que serão substituídas por três reuniões das escolas em pontos distintos da cidade.

Não haverá escolha da corte carnavalesca, já que os soberanos do ano passado não puderam exercer as funções em virtude do cancelamento dos desfiles. Desse modo, os eleitos em 2018 seguirão atuando nestes festejos.

A estrutura

Será mantida a pista de 340 metros, com arquibancadas gratuitas capazes de receber até 3,5 mil pessoas. Além disso, serão 190 camarotes de aproximadamente 12 metros quadrados, com espaço para 18 pessoas cada, que serão comercializados por valores entre R$ 800 e R$ 1.500. Com isso, e também aliado a outras receitas, como aluguel de espaços para alimentação, as escolas esperam arrecadar mais de R$ 200 mil, valor dentro da margem de erro dos custos calculados para realizar a festa.

As escolas

Vão desfilar pelo Grupo Ouro: Bambas da Orgia, Imperadores do Samba, Imperatriz Dona Leopoldina, Estado Maior da Restinga, União da Vila do IAPI e Império da Zona Norte. Pelo Grupo Prata, vem Academia de Samba Praiana, Academia Samba Puro, Império do Sol (São Leopoldo), Copacabana, Realeza, Unidos da Vila Mapa, Unidos da Vila Isabel (Viamão) e Unidos da Tinga. O Grupo Bronze vai para a avenida apenas com a Fidalgos e Aristocratas e, além das escolas, desfila também a Tribo carnavalesca Os Comanches.

Liespa

A Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre não esteve presente no evento. Os presidentes afirmam que não há qualquer ruptura ou rusga, mas que a entidade “não estava atendendo aos interesses das escolas” e por tal motivo decidiram realizar mobilização por conta própria.

Já o presidente da Lispa, Juarez Guterrez, garante que a entidade está a par de tudo que se passa, mas esclarece que “não está à disposição para continuar assinando cível e criminalmente por algo que ela não sabe quem vai pagar a conta”. Seguiu dizendo que “já foi responsável por um carnaval que ainda tem um passivo e não quer que isso se prolifere” e que “ficou a vontade para dizer às filiadas que, se elas quiserem fazer o desfile, não há nada de errado nisso, mas não se sente em condições de ser a própria promotora do evento”.

Na próxima quarta-feira (16) uma reunião da Liga será realizada para emitir nota oficial sobre a questão.