Para o novo secretário estadual da Educação, Faisal Karam, o Estado precisa se reinventar para sobreviver ao que chamou de “o fundo do poço”. Ele concedeu entrevista nesta manhã ao programa Direto ao Ponto e afirmou ainda que é preciso ver o processo como algo maior “ou não tem como fazer educação”. Garantiu, também, que o diálogo com os professores é promessa de campanha e será firmado durante a gestão.
Conforme o secretário, a extinção de vagas e até mesmo o fechamento de escolas ocorrido ainda no governo passado não deve afetar o ano letivo de 2019. Disse que não houve redução no número de vagas, e sim uma “readequação” destas para outros espaços. “O que houve é redução de espaços físicos. Por que não agrupar dentro de um conceito pedagógico que não traga prejuízos e que traga benefícios?”, questionou Karam.
Ainda acrescentou que o Estado está analisando quais salas mais podem ser agrupadas para que haja uma otimização sem prejuízo pedagógico. “Ou a gente começa a ver como algo maior ou não tem como fazer educação”, disse ele, se referindo às queixas de pais acerca do fechamento de determinadas escolas.
Também revelou que não esperava ser chamado para a pasta, mas acredita que os bons números obtidos na educação enquanto prefeito de Campo Bom o creditaram à função. “Concorri a deputado estadual, não trabalhava com a hipótese de ser secretário inicialmente”, confessou. Informou, ainda, que ficou até mesmo surpreso, pois sempre atuou em outro ramo: “fui secretário de Obras por muito tempo”, comentou.
Sobre os desafios, afirmou que é dever da pasta “tentar racionalizar e readequar os recursos.” Disse ainda que “a educação precisa ser vista como uma política de Estado” e que, em sua opinião, os salários dos professores deveriam ser pagos pela União. “Professores, médicos, servidores da segurança. Os setores fundamentais deveriam ser custeados pelo governo federal, pra que a gente pudesse apenas complementar esses pagamentos e focar na infraestrutura”, declarou.
Nesse sentido, salientou que o primeiro passo de seu mandato será tentar minimizar os problemas de estrutura nas escolas, os quais, segundo ele, afetam o desempenho dos estudantes. “Vemos de forma muito clara que é grande o desequilíbrio entre regiões, porque determinados locais apresentam um índice do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mais alto que outros. Tu começas a analisar e vês que alguns lugares não têm laboratório, equipamentos de informática em quantidade necessária para a escola ser atrativa para o aluno. Esse é o primeiro passo, e investir neles”.
Também disse que, enquanto a economia não for retomada, é preciso trabalhar com o que há em caixa. Garantiu que será feita uma tentativa de dilatar o prazo para uso de recursos do Bird, reserva de R$ 60 milhões provenientes do governo federal, mas que teriam que ser usados até fevereiro. “Queremos protelar o prazo para que não percamos a verba”, asseverou.
Questionado sobre temas polêmicos, como o debate sobre ideologia de gênero e o movimento Escola Sem Partido, ressaltou que são pontos que devem ser respeitados, mas não são o foco. “Não que não sejam importantes, mas temos que focar na qualidade de ensino, de estrutura, na evasão escolar”. Sobre a desvalorização dos professores, disse que muitas vezes acabam tendo duas funções: criar os filhos dos outros e ainda lecionar.
Sobre o formato educacional, informou que o Estado está perdendo espaço na geração de emprego e renda, e que o mercado está cada vez mais restrito. Assim, entende que se não houver investimento em qualificação de serviços, o empobrecimento será cada vez maior. Acredita que é preciso qualificar o jovem, e a criação de escolas técnicas seria passo importante desse processo.
Os salários foram outro ponto comentado pelo secretário. Garantiu que o desafio é colocar os salários em dia, e que apenas depois disso se discutirá recomposição salarial e reposição de perdas. Também reforçou que haverá compromisso em dialogar com todos os servidores, e com os professores não será diferente. “O momento é de conversar, não podemos fechar a porta, mesmo com dificuldades. Se teremos as respostas, é outra discussão, mas o diálogo é importante. “