Justiça de Goiás recebe denúncia contra João de Deus

Contas do médium tiveram R$ 50 milhões bloqueados para indenizar vítimas

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasi

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) enviou ao Tribunal de Justiça do estado (TJ-GO), nesta sexta-feira, denúncia contra o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Segundo o tribunal, a denúncia cita os crimes de violação sexual e estupro de vulnerável. O TJ-GO confirmou o recebimento da denúncia e disse que “está em mesa para análise”.

O caso corre em segredo de Justiça. João de Deus é acusado de ter cometido crimes de abusos sexuais contra mulheres que frequentaram a casa onde oferece atendimento espiritual. O Ministério Público apura mais de 250 casos. Ele rebate as acusações. A denúncia, segundo a promotora Gabriella de Queiroz, tomou por base dois delitos de violação sexual mediante fraude e dois crimes de estupro de vulnerável. Todos ocorreram em 2018.

As duas investigações consideradas na denúncia envolviam, de início, 19 vítimas. Cinco delas ainda dependem de diligências complementares. Os demais dez casos decaíram ou prescreveram.

O caso mais antigo é de 1975 e o mais recente, de maio de 2018. “Falando em linguagem leiga, o direito penal não alcança mais a punição desses fatos, não podemos mais buscar uma punição pelo direito penal”, explica a promotora. Apesar disso, os casos foram relatados também na denúncia.

Investigações

O médium está preso em caráter preventivo desde o dia 16 de dezembro, quando se entregou à Polícia. A cela, de 16 metros quadrados, fica no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO).

Nessa quarta-feira, o próprio médium prestou depoimento aos promotores da força-tarefa do MP-GO que investiga as acusações de crimes sexuais apresentadas por centenas de mulheres do Brasil e do exterior. Ele voltou a afirmar que nunca cometeu nenhum abuso contra frequentadores do centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO).

A esposa do médium, Ana Keyla Teixeira, também pode ser indiciada. Ela prestou depoimento também na quarta na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, em Goiânia. Segundo a delegada Paula Meotti, que integra a força-tarefa que investiga o caso na Polícia Civil, há indícios de que ela sabia do que ocorria dentro de casa.

“Ela pode ser indiciada, não temos como antecipar. Existe possibilidade real. Um dos pontos é a questão das armas no quarto do casal, que era muito facilmente identificável. Não há como negar que tivesse ciência e há indício que inclusive seja propriedade dela”, disse Paula à Agência Brasil, nessa quinta-feira.

No depoimento à polícia, Ana Keyla negou qualquer envolvimento e disse que não sabia sobre armas, munições ou dinheiro. Disse ainda que nunca tinha ouvido falar sobre nenhum abuso sexual que possa ter sido cometido pelo marido. Segundo a delegada, ela pode ser indiciada como coautora ou partícipe, o que pode levar a, caso condenada, a cumprir uma pena de 3 a 6 anos de prisão.