Lula vira réu em caso de Guiné Equatorial

MPF acusa ex-presidente de lavagem de dinheiro

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil / CP Memória

A Justiça Federal recebeu hoje denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse processo, ele se torna réu por suposta lavagem de dinheiro, acusado de ter recebido R$ 1 milhão do grupo brasileiro ARG em valores dissimulados na forma de doação ao Instituto Lula.

De acordo com o MPF, o pagamento ocorreu depois que o ex-presidente influiu em decisões do presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, as quais resultaram na ampliação dos negócios da empresa no país africano. A denúncia, da Força-Tarefa da Operação Lava Jato em São Paulo, chegou à Justiça em novembro.

“A abertura de uma nova ação penal contra Lula com base em acusação frívola e desprovida de suporte probatório mínimo é mais um passo da perseguição que vem sendo praticada contra o ex-presidente com o objetivo de impedir sua atuação política por meio da má utilização das leis e dos procedimentos jurídicos (lawfare)”, disse, em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins.

Também responde ao processo o controlador do grupo ARG, Rodolfo Giannetti Geo, denunciado por lavagem de dinheiro e tráfico de influência em transação comercial internacional. Os fatos, segundo a denúncia, ocorreram entre setembro de 2011 e junho de 2012. Como Lula passou de 70 anos, o crime de tráfico de influência prescreveu em relação a ele, mas não para o empresário.

Denúncia
O MPF se baseou em e-mails encontrados após busca e apreensão realizada no Instituto Lula em março de 2016 durante a Operação Aletheia, 24ª fase da Operação Lava Jato de Curitiba. Segundo o MPF, o ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula, Miguel Jorge, comunicou a Clara Ant, diretora do Instituto Lula, que o ex-presidente tinha a intenção de falar com Geo sobre o trabalho da ARG na Guiné Equatorial. Segundo o ex-ministro informou no e-mail, a empresa se dispunha, em contrapartida, a fazer uma contribuição financeira ao Instituto Lula.

Em maio de 2012, Geo encaminhou para Clara Ant, por e-mail, uma carta digitalizada de Teodoro Obiang para Lula e pediu o agendamento de uma data para encontrar o ex-presidente e lhe entregar a original.

O ex-presidente escreveu uma carta a Obiang, datada de 21 de maio de 2012, mencionando um telefonema entre ambos e a crença no fato de que a Guiné Equatorial tinha condições de ingressar, futuramente, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. No mesmo documento, Lula informou que Rodolfo Geo dirigia a ARG, “empresa que já desde 2007 se familiarizou com a Guiné Equatorial, destacando-se na construção de estradas”. O empresário levou a carta em mãos.

“A denúncia não aponta qualquer ato concreto praticado por Lula que pudesse configurar a prática de lavagem de dinheiro ou tráfico de influência”, sustenta a defesa de Lula.

O MPF juntou à denúncia o registro da transferência bancária de R$ 1 milhão da ARG ao Instituto Lula em 18 de junho de 2012. Recibo emitido pela instituição na mesma data e também apreendido na entidade registra a doação do valor. No entanto, o MPF considera que houve pagamento de vantagem a Lula por influência ao presidente de outro país. Para a força-tarefa, a suposta dissimulação da origem do dinheiro ilícito configura crime de lavagem de dinheiro.

A defesa de Lula rebate a acusação. “A doação questionada foi dirigida ao Instituto Lula, que não se confunde com a pessoa do ex-presidente. Além disso, trata-se de doação lícita, contabilizada e declarada às autoridades, feita por mera liberalidade pelo doador”, completa o advogado de Lula.