MDB e PSDB se reaproximam no RS e em Porto Alegre

Na Capital, jantar sela ingresso emedebista na base de Marchezan

Prefeitura de POA. Foto: Ricardo Giusti / CP Memória

Passada a mágoa resultante das duas últimas corridas eleitorais, que os colocaram como adversários nas disputas, PSDB e o MDB estão cada vez mais próximos tanto na formação da base do próximo governo estadual, como na que sustenta a atual administração de Porto Alegre. Na noite dessa terça-feira, um jantar na residência do vereador Idenir Cecchim (MDB), com a presença do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), dos vereadores emedebistas e do vice-presidente do diretório metropolitano da sigla, Luiz Fernando Záchia, selou o ingresso dos cinco vereadores do MDB na base de Marchezan, após quase dois anos de negociação. Cecchim foi o coordenador da campanha frustrada de reeleição do governador José Ivo Sartori (MDB), que perdeu a disputa para Eduardo Leite (PSDB), dois anos depois de Sebastião Melo (MDB) também perder a eleição municipal para Marchezan em Porto Alegre.

Após baterem o martelo ontem, prefeito e vereadores articulam o formato que terá o anúncio oficial, planejado para ocorrer até a próxima semana, e de modo a afastar questionamentos sobre o fisiologismo do partido que possam frustrar a aliança: há duas semanas, movimentos internos da sigla, como Juventude e Mulheres, lançaram uma petição pública propondo a realização de um congresso municipal para decidir sobre o ingresso ou não na gestão tucana.

A ideia inicial é apresentar uma carta-compromisso, indicando que, em troca do apoio, Marchezan se comprometa com algumas questões programáticas. Na prática, conforme as negociações em curso, além de cargos de segundo e terceiro escalões, o MDB também deve ficar com a titularidade da Secretaria de Desenvolvimento Social e Esporte, a ser ocupada pela hoje vereadora Nádia Gerhard (MDB). Ontem, pouco antes do jantar, a vereadora negou qualquer articulação, inclusive o jantar. “São tudo especulações da imprensa. Não há reunião para tratar desse assunto. Estou aqui despachando no gabinete.”

A costura em Porto Alegre marca ainda o retorno às articulações da cena política de Luiz Fernando Záchia, que já esteve entre as principais lideranças do MDB, mas saiu dos holofotes e chegou a dizer que iria abandonar a vida pública após ter sido preso na Operação Concutare, da Polícia Federal, em 2013. Até hoje não denunciado ele, desde o início de 2017, é diretor administrativo-financeiro da Ceitec, um cargo de indicação federal. Com a troca de governo em 1º de janeiro, a aposta de parte dos emedebistas que articulam com Marchezan é de que Záchia também venha a integrar o primeiro escalão em um futuro próximo.

Záchia não assume a definição da aliança, mas, ao mesmo tempo, deixa claro que a oficialização é questão de tempo. “É muito complicado fazer oposição sem ser oposição. A maioria dentro do partido tem esse entendimento. Então, em Porto Alegre, acho que vai ser oficializado o convite por parte do prefeito. A tendência natural é que, mais adiante, a bancada do MDB na Assembleia Legislativa também entre no governo estadual.” Ele refuta ainda o peso dos cargos nas tratativas. “Preencher cargos faz parte do jogo, mas não se ingressa em um governo só por isso.”

Governo Leite

Na esfera estadual, o governador eleito, Eduardo Leite (PSDB), depois de convidar formalmente o MDB a integrar sua administração, colocou em campo o futuro chefe da Casa Civil, Otomar Vivian (PP). Vivian, além de ter ótimo trânsito no Legislativo, já integrou administrações do MDB e, até o ano passado, ocupou a presidência do Instituto de Previdência do Estado (Ipergs) na administração Sartori. Ele está procurando um a um dos deputados eleitos para ‘ouvir suas demandas’. E os parlamentares, que logo após a eleição destacavam que a população os havia colocado na oposição, começaram a adaptar o discurso, falando em “incorporação ou independência”.

“O partido vem fazendo o debate, assim como a bancada discute internamente se deve ingressar ou não, e, por parte da bancada, tem um entendimento de que devemos, antes do Natal, tirar uma decisão sobre se nos incorporamos ou não ao governo, para que não fique desrespeitoso. O governador fez um convite e devemos responder: vamos apoiar, incorporar, ficar independente… De qualquer modo, não seremos incoerentes com tudo o que defendemos durante o governo Sartori. Por exemplo, a venda das estatais de energia e o Regime de Recuperação Fiscal”, elenca o vice-líder da bancada do MDB na Assembleia, deputado Juvir Costella.

Para além da proximidade ideológica, os tucanos buscam apoio para projetos impopulares que pretendem apresentar já a partir do início da administração. “Oito votos fazem muita diferença”, resume um dos negociadores de Leite. Na terça-feira, o MDB deu uma demonstração do que pode fazer no Legislativo. A sigla teve papel importante na retirada do quórum e os projetos de reajuste dos vencimentos dos servidores do Judiciário, do Ministério Público (MPE), da Defensoria Pública, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Legislativo, que estavam na pauta, não foram a votação.

Na avaliação que faz sobre uma futura participação na base de Leite, parte dos parlamentares do MDB considera que é necessário manter centenas de espaços hoje ocupados dentro da administração estadual através de indicações para cargos. A preocupação é semelhante a de vereadores do partido que também possuem indicações na administração Sartori. Em tese, por decisão do governo, todos os cargos serão liberados até o final do mês. Na prática, para manter os afilhados emedebistas com eles, basta um rito burocrático que consiste em o futuro governador ou o chefe da Casa Civil, conforme o caso, tornarem as exonerações sem efeito ou realocarem exonerados em outras funções.