Dos trovadores gaúchos

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Em 04 de dezembro de 1982 falecia Leovegildo José de Freitas, mais conhecido como Gildo de Freitas, eternamente reconhecido como o imbatível Trovador dos Pampas. No mesmo dia também, porém, em 1985, ficou marcado o falecimento de Vitor Mateus Teixeira, mais conhecido como Teixeirinha, que é reconhecido como o Rei do Disco. Não é mero acaso do destino que os dois nomes mais expoentes da música Rio-Grandense vieram a falecer no mesmo 04 de dezembro.

Criaram um fake que os dois eram rivais, muito antes pelo contrário, eram amigos. Em 1989, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto de Lei do deputado Joaquim Moncks, que fixa o 04 de dezembro como o “Dia do Poeta Repentista Gaúcho e do Artista Regional Gaúcho” e que consagra como patronos, respectivamente, Gildo de Freitas e Teixeirinha.
Desse modo, esta data não deve ser lembrada simplesmente como o dia da morte do Gildo e do Teixeirinha, mas para recordar e exaltar o que esses homens representaram para a cultura Rio-Grandense.

E que sirva para lembrar a todos os gaúchos que Gildo de Freitas e Teixeirinha, durante suas vidas e nas suas músicas, exaltaram nossa cultura, nosso Estado, nossa vida, nossa história. Suas músicas jamais deixam de ser atuais e de retratar nosso sistema de vida, como diria o Gildo de Freitas. Eles são exemplos para todos os demais artistas regionais do passado, do presente e do futuro. Assim como Paixão Cortes recriou o espírito Farroupilha e aumentou nosso orgulho das tradições Gaúchas, Gildo de Freitas e Teixeirinha criaram a identidade da música regional gaúcha.

Homenagens ao Gildo e Teixeirinha não se resumem apenas ao dia 04 de dezembro. Gildo de Freitas é nome de CTG, de rua, de bairros, do mesmo modo que Teixeirinha. Segundo o historiador Fraga Cirne, o canto de improviso é uma das mais expressivas manifestações da cultura espontânea do Rio Grande do Sul. É, talvez, a forma fundamental da música regionalista do nosso Estado. Para diferenciar da trova literária, adotou-se chamar de Trova Galponeira.

O Trovador do Rio Grande do Sul, na parte do improviso, tem estilo próprio. Sua propagação se deu nos galpões da estâncias para a modernidade das cidades de hoje. A trova galponeira é a arte de improvisar versos em diferentes modalidades de versificação e com diferentes gêneros musicais de acompanhamento, identificadores da cultura gaúcha.

Início – o improviso de antigamente era em quadrinhas, ou seja, de 4 versos (linhas), com rimas intercaladas ( 2º verso com o 4º). Normalmente, ao som da viola de 10 ou 12 cordas. As primeiras caracterizavam-se por apresentar melodia livre, as chamadas QUERO-MANAS, do período fandangueiro.

Trova Galponeira – é a denominação atribuída a toda forma de improviso no Rio Grande do Sul. Atualmente as mais conhecidas são: Trova Campeira, Trova Tira-Teima (em desuso), Trova em Milonga, Trova do Martelo, Trova Estilo Gildo de Freitas e ainda a Pajada, que também é improviso.

Trova Campeira – É a trova tradicional de desafio (disputa) no Rio Grande do sul, com estrofes em sextilhas (6 versos ou linhas). Versos em redondilha maior, onde as rimas são alternadas (2º, 4º e 6º versos) e a métrica é setissilábica, isto é, versos em sete sílabas. Esta modalidade, popularizou-se a partir das comemorações do Centenário da Revolução Farroupilha em 1935. Seus primeiros grandes divulgadores foram os trovadores e gaiteiros Inácio Cardoso e Pedro Raymundo. Inácio Cardoso introduziu a sextilha (estrofe de 6 versos), que até então cantavam em quadra (4 linhas). Por ter acompanhamento de gaita com a nota musical MI MAIOR, numa ocasião Inácio Cardoso teria chamado de MI MAIOR DE GAVETÃO, sendo que também chamavam esta tradicional modalidade de Trova Campeira. Recentemente designou-se chamar de Trova Campeira e o gênero musical de gavetão.

Gavetão – Recentemente adotou-se chamar o gênero da Trova Campeira de Gavetão, por estar a melodia entre o chote e a toada.

Tema – Por volta de 1956 surgiu o Tema nas trovas de disputa, para evitar a repetição de velhos chavões, bem como para testar o conhecimento dos trovadores.

Trova Tira-Teima – Modalidade atualmente em desuso. A melodia difere um pouco do Gavetão e não há intervalo musical entre um cantador e outro. A parte poética é a mesma da trova campeira.

Trova em Milonga – O trovador improvisa em ritmo de milonga. Normalmente é utilizada em apresentações individuais e não de disputa. As estrofes não tem um número padrão de versos, estes em redondilha maior.

Trova de Martelo – Versos em redondilha maior, com rimas alternadas. A música é vaneira e marcha, com início em Mi Maior. A característica é a rima interestrófica, o concorrente completa a rima do outro. Esta modalidade teria surgido por volta de 1955.

Trova estilo Gildo de Freitas – Os trovadores improvisam em cima da música DEFINIÇÃO DO GRITO, de Gildo de Freitas. Estrofes de 9 versos em redondilha maior, com rima no 2º, 4º, 6º e 9º versos e 7º e 8º entre si.

Pajada – Improviso assemelhado à Trova em Milonga. O canto é lento, próximo à uma declamação, com estrofes de 10 versos. Modalidade com poucos adeptos. Seu maior representante foi nosso colega aqui na Rádio Guaíba com o programa Brasil Grande do Sul – o magistral Jaime Caetano Braun.

O programa Nos Quadrantes do Sul promove sempre no último sábado de cada mês o Dia da Trova. A iniciativa tem por objetivo preservar essa modalidade.