Delator fala em pagamentos de mesada de R$ 150 mil para Pezão

Governador do Rio chegou pouco depois das 16h ao Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar, em Niterói, região metropolitana do Rio, onde vai cumprir a prisão preventiva

Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil / CP

O operador financeiro Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, em delação premiada, afirmou que o governador do Rio Luiz Fernando Pezão (MDB), preso hoje, recebia propina em envelopes azuis, para despistar suspeitas, embolsando uma espécie de mesada de R$ 150 mil e mais um “13º” salário de mesmo valor.

Miranda disse que os repasses ocorreram de março de 2007 a março de 2014. De acordo com ele, recebeu orientações do ex-governador do Rio Sergio Cabral, logo no primeiro mandato, para fazer os pagamentos a Pezão.

A Agência Brasil teve acesso ao conteúdo da delação de Carlos Miranda ao Ministério Público Federal. Pezão, segundo o delator, tinha vários codinomes “Pé” , “Pezzone” e “Big Foot”.

“Os pagamentos foram religiosamente cumpridos”, garante o delator. “Depois de [Sergio] Cabral [ex-governador do Rio] sair do governo, os pagamentos inverteram. Pezão passou a enviar a Cabral R$ 400 mil mensais.”

A Polícia Federal prendeu na manhã de hoje Pezão e mais oito pessoas. Todos tiveram a prisão decretada por ordem do ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que a prisão de Pezão foi motivada a pedido do Ministério Público porque os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro seguiam em andamento. O valor sequestrado a pedido dela, em contas e bens dos investigados, soma R$ 39 milhões.

Prisão em batalhão especial

Pezão chegou pouco depois das 16h ao Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar, em Niterói, região metropolitana do Rio, onde vai cumprir a prisão preventiva. Pezão vai ficar em uma sala de estado-maior da unidade prisional, após sugestão do interventor federal na segurança do estado, general Walter Braga Netto, já que o governador detém foro privilegiado.

Preso no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governo do estado, ele pediu para tomar café antes de ser conduzido à sede da Superintendência da Polícia Federal, onde chegou às 7h50min.

O governador prestou depoimento por cerca de três horas ao delegado encarregado do inquérito da Operação Boca de Lobo, de onde saiu por volta das 15h. Antes de ser levado para Niterói, o comboio da Polícia Federal ainda passou na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte, onde Pezão passou por uma triagem.

Delação

A Operação Boca de Lobo é baseada na deleção premiada de Carlos Miranda, operador financeiro nos dois governos de Sérgio Cabral. Solto no dia 18 deste mês, Miranda cumpre prisão domiciliar.

Ele havia sido detido em 2016, no âmbito da Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato, no Rio. O acordo de delação prevê que Miranda fique preso mais um ano e meio em regime domiciliar semiaberto e mais um ano e meio em regime domiciliar aberto. Ele vai usar tornozeleira eletrônica.

Transição

Mais cedo, o vice-governador do Rio, Francisco Dornelles, informou, em nota, que vai dar prosseguimento aos trabalhos de transição de governo.

Dornelles, que assume interinamente o governo, disse que vai manter todas as ações previstas no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) do estado.

Já o governador eleito, Wilson Witzel, que assume em 1º de janeiro de 2019, divulgou nota à imprensa dizendo que a transição não vai ser afetada pela prisão de Pezão.