Escola sem Partido avança em comissão da Câmara

Relator leu parecer, mas pedido de vista adiou votação

Deputado Flavinho durante sessão de discussão do processo de impeachment de Dilma, no plenário da Câmara. Foto. Valter Campanato/Agência Brasil

Após diversas tentativas frustradas, o projeto Escola sem Partido avançou na Câmara dos Deputados, em Brasília. Em mais uma sessão tumultuada, com embates entre apoiadores e contrários à proposta, o parecer do relator, deputado Flavinho (PSC-SP), pode ser lido hoje na comissão especial. No entanto, um pedido de vista coletivo adiou a votação do PL na comissão, por duas sessões do plenário da Câmara.

A expectativa do presidente da comissão, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), é de que o texto seja votado pelo colegiado na próxima quinta-feira. Por tramitar em caráter conclusivo, caso seja aprovado na comissão e não haja pedido para que o projeto seja analisado em plenário, o Escola sem Partido pode seguir diretamente para o Senado Federal. No entanto, partidos da oposição ainda podem apresentar recursos para que o texto seja analisado pelo plenário da Câmara.

Impasse
Deputados da oposição vêm trabalhando para dificultar a aprovação da medida, chamada por parlamentares de “lei da mordaça”. Para a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) os apoiadores da proposta elegeram os professores como inimigos do Brasil. Segundo ela, o texto do PL fere a liberdade de ensinar, um dos desdobramentos do direito constitucional à liberdade de expressão.

“Parece que a gente está vendo na prática o que Machado de Assis descreveu no livro O Alienista. Parece que está todo mundo louco aqui, encontrando inimigo imaginário e é o professor que foi eleito para ser o inimigo público número um dessa comissão”, afirmou Marcivânia.

Para os deputados favoráveis à proposta, o Escola sem Partido já é um projeto vitorioso por ter projetado o tema em âmbito nacional. O relator da proposta, deputado Flavinho, argumentou que há diferença entre professores e doutrinadores e que o projeto busca inibir esse tipo de atuação em sala de aula. Para o parlamentar, pais e alunos que se sentem ameaçados por doutrinadores devem poder produzir provas contra eles, por exemplo, filmando-os em sala de aula.

“É um problema crônico na estrutura organizacional do país e nós, mais do que nunca, estamos tentando dar linhas, colocar luzes sobre o que, até então, estava escondido debaixo do tapete”, disse. “Assumi a função [de relatar o projeto] após ouvir o coração dilacerado de um pai ao ver suas filhas sendo doutrinadas dentro da escola”, completou.

Mudanças na LDB
O projeto de Lei muda trechos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir um artigo determinando que o Poder Público não possa se intrometer no processo de amadurecimento sexual dos alunos nem permitir qualquer forma de dogmatismo ou tentativa de conversão na abordagem das questões de gênero.

A medida também insere um dispositivo que impede o desenvolvimento de políticas de ensino e a adoção no currículo escolar, de disciplinas obrigatórias “nem mesmo de forma complementar ou facultativa, que tendam a aplicar a ideologia de gênero, o termo ‘gênero’ ou ‘orientação sexual’.”

O texto também estabelece o “respeito às crenças religiosas e às convicções morais, filosóficas e políticas” de pais e alunos, ao colocar como precedência os valores de ordem familiar sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa.

De acordo com o projeto, as escolas serão obrigadas a fixar cartazes com deveres do professor, entre os quais a proibição de usar a posição pessoal para cooptar alunos para qualquer corrente política, ideológica ou partidária. Além disso, o professor deve apenas indicar as principais teorias sobre questões políticas, socioculturais e econômicas, e não pode incitar os estudantes a participar de manifestações.