Em depoimento, Lula reitera que não é dono de sítio em Atibaia

Ex-presidente chegou a dizer a juíza que não sabia do teor da acusação

Foto: Heinrich Aikawa / Instituto Lula / Divulgação / CP Memória

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou hoje, em depoimento à Justiça Federal em Curitiba, ter conhecimento sobre as reformas realizadas no sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP). Ele negou também ser o dono do imóvel.

Lula foi interrogado pela juíza Gabriela Hardt em ação penal na qual ele e mais 12 réus respondem ao processo, entre eles os empresários Marcelo e Emílio Odebrecht e Léo Pinheiro, da OAS, e o pecuarista José Carlos Bumlai. As acusações envolvem os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

O sítio foi alvo das investigações da Operação Lava Jato, que apura a suspeita de que as obras de melhorias no local foram pagas por empreiteiras investigadas por corrupção, como a OAS e a Odebrecht.

No interrogatório, Lula confirmou que passou a frequentar a propriedade no início de 2011, quando deixou a Presidência da República. Ele disse, no entanto, que as reformas já haviam ficado prontas e que não teve conhecimento delas por não ser o dono do imóvel.

Depoimento

O ex-presidente também negou que tenha tratado do assunto com o empresário Emílio Odebrecht e garantiu que, quando conheceu a propriedade, não havia mais reforma em andamento.

No início da audiência, a juíza perguntou a Lula se tinha conhecimento sobre as acusações contra ele, uma praxe processual. Ele respondeu que não sabia e queria saber o teor da acusação.

“Estou disposto a responder toda e qualquer pergunta. Eu sou dono do sítio ou não?” questionou.

Em seguida, Gabriela Hardt retrucou. “Eu não estou sendo interrogada neste momento. Isso é um interrogatório, e se o senhor começar neste tom comigo, a gente vai ter problema”.

Durante o depoimento, o ex-presidente voltou a afirmar que as acusações contra ele são “uma farsa”.

Reforma

Segundo os investigadores, as reformas começaram após a compra da propriedade pelos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna, amigos de Lula, quando “foram elaborados os primeiros desenhos arquitetônicos para acomodar as necessidades da família do ex-presidente”.

No laudo elaborado pela Polícia Federal, em 2016, os peritos citaram as obras que foram feitas, entre elas a de uma cozinha avaliada em R$ 252 mil. A estimativa é de que tenha sido gasto um valor de cerca de R$ 1,7 milhão, somando a compra do sítio (R$ 1,1 milhão) e a reforma (R$ 544,8 mil).

Foi a primeira vez que Lula deixou a carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba após ter sido preso pela condenação em outro processo, que trata do apartamento tríplex do Guarujá (SP). Desde 7 de abril, Lula cumpre, na capital paranaense, pena de 12 anos e um mês de prisão, imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Defesa do ex-presidente

A defesa de Lula, em nota, que ele “rebateu ponto a ponto as infundadas acusações do Ministério Público” ao prestar depoimento. De acordo com o advogado Cristiano Zanin Martins, embora o Ministério Público Federal tenha distribuído a ação penal à Lava Jato de Curitiba sob a afirmação de que nove contratos específicos da Petrobras e subsidiárias geraram supostas vantagens indevidas, os procuradores da República, hoje, não questionaram Lula nesse sentido.

Para Zanin, a situação reforça que a Lava Jato criou “pretexto” para submeter Lula a processos arbitrários perante a Justiça Federal de Curitiba. De acordo com ele, Lula também apresentou perplexidade de estar sendo acusado pelo recebimento de reformas em um sítio sem vínculo com a Petrobras e que pertence “de fato e de direito à família Bittar”, conforme a documentação constante no processo.

O advogado também detalha que Lula reforçou indignação por estar preso sem ter cometido qualquer crime e por estar sofrendo perseguição judicial por motivação política.