Movimentos negro e tradicionalista vão remodelar piquete fechado no Acampamento Farroupilha

Estrutura que reproduzia senzala gerou polêmica

Foto: Divulgação/MTG

O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e o Conselho Municipal dos Direitos do Povo Negro em Porto Alegre se reuniram, na tarde de hoje, no Parque da Harmonia, que sedia até quinta-feira o Acampamento Farroupilha. Também participaram do encontro integrantes do piquete Aporreados do 38, fechado pela organização do evento em função da polêmica que suscitou ao reproduzir o ambiente de uma senzala. A tentativa era homenagear os lanceiros negros que se integraram à revolução e acabaram traídos pelos comandantes.

Hoje, o objetivo do encontro era aproximar os movimentos para a construção de uma pauta “conjunta e positiva”. A reunião definiu que a exposição vai ser remodelada, dessa vez com participação ativa do movimento negro. Os trabalhos começaram durante a tarde.

Com isso, o piquete reabre ao público às 19h desta quarta. Uma coletiva de imprensa vai marcar o ato. Mediado pela Coordenadoria Municipal de Igualdade Racial da Prefeitura de Porto Alegre, o encontro já é considerado histórico pelos participantes.

No piquete fechado ontem, manequins apareciam acorrentadas a pedaços de madeira para representar a tortura que o povo negro sofria no período. O MTG garante que o cenário e a abordagem do piquete foram modificados, sem aviso prévio, após a comissão de avaliação ter aprovado o projeto inicial.

“Nosso pedido de desculpas aos negros que nós atingimos. Não tínhamos nenhuma intenção em relação ao racismo. Estamos há 32 anos montando projetos culturais e recebemos a média de 40 mil visitantes por ano. Estamos aqui para contribuir com a cultura gaúcha e não queremos nenhuma polêmica”, esclareceu o coordenador do Aporreados do 38, Cleonilton Almeida.

Ontem, o MTG também divulgou nota sobre o ocorrido:

NOTA OFICIAL MTG

Acerca da representação de uma senzala no Acampamento Farroupilha de Porto Alegre, o Movimento Tradicionalista Gaúcho declara:

1 – A estrutura do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre conta com mais de 350 piquetes acampados, além das instalações concernentes às áreas comerciais, administrativas e praça de alimentação. Para participar do acampamento, cada entidade deve apresentar um projeto cultural voltado ao tema definido anualmente para ser trabalhado durante os festejos farroupilhas, que em 2018 é “O Tropeirismo”;

2 – A ação, que constitui um projeto para fins de participação no acampamento, foi realizada por apenas um piquete, sendo, portanto, fato isolado e não representativo da filosofia do evento e do tradicionalismo gaúcho como um todo;

3 – Por tratar-se de evento público, em espaço cedido pelo município de Porto Alegre, os projetos são encaminhados à Secretaria de Cultura do município no momento da inscrição. Por este motivo, o MTG só toma conhecimento do conteúdo dos projetos após o início do evento e das avaliações;

4 – O projeto executado através de cenário e material teórico foi modificado após passar pela avaliação da Comissão. O piquete inseriu novos elementos no cenário e modificou a abordagem, sem comunicar a Organização do evento. Neste sentido, é importante ressaltar que as modificações causaram surpresa aos integrantes da comissão executiva do Acampamento Farroupilha;

5 – O Movimento Tradicionalista Gaúcho discorda veementemente da abordagem realizada na instalação e repudia toda e qualquer forma de discriminação com o povo negro, cuja importância é incontestável para o desenvolvimento socioeconômico e cultural do Rio Grande do Sul, bem como para a construção da identidade do povo gaúcho;

6 – No mesmo dia em que houve conhecimento do acontecido, na segunda-feira, 17 de setembro de 2018, a organização do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre averiguou a situação e notificou o piquete determinando a suspensão e fechamento da instalação;

7 – Em nome de todos os tradicionalistas e em consideração a todos que são apaixonados pela cultura gaúcha, o Movimento Tradicionalista Gaúcho pede as mais sinceras desculpas ao povo negro por este infeliz episódio. Ao mesmo tempo, reitera a importância da realização de trabalhos em prol da consciência e do respeito para com verdadeira cultura negra, como acontece, por exemplo, no próprio Acampamento Farroupilha, em piquetes como o Mocambo e o Lanceiros Negros Contemporâneos;

8 – Por fim, cabe salientar que o Movimento Tradicionalista valoriza e respeita a cultura negra, tendo plena consciência da diferença entre abordagem histórica e cultural. Em diversos eventos promovidos pela instituição, como o ENART, o Congresso Tradicionalista Gaúcho, a Ciranda Cultural de Prendas e o Entrevero Cultural de Peões, são realizadas ações como apresentações, estudos e debates acerca das contribuições dos negros para o Rio Grande do Sul.

Porto Alegre, 17 de setembro de 2018

Nairo Callegaro
Presidente do MTG