O ministro do Desenvolvimento Social, Alberto Beltrame, visitou, na tarde de hoje, em Canoas, o alojamento para o qual foram encaminhados 201 dos 288 venezuelanos refugiados trazidos à cidade no processo de interiorização. Beltrame elogiou a postura do Rio Grande do Sul em acolher os imigrantes, e reforçou que o Estado é o que mais recebeu venezuelanos até agora dentro do processo oficial de encaminhamento por parte do governo. O ministro ainda reforçou que “a interiorização está sendo um sucesso e que o Rio Grande do Sul está dando uma demonstração de civilidade e de cidadania.”
“A nossa própria formação é de imigrantes, todos nós temos imigrantes nas famílias, e isso facilita o recebimento de venezuelanos, assim como já facilitou a recepção de haitianos e senegaleses”, relembrou o ministro, que conheceu pessoalmente os apartamentos onde estão, desde quarta-feira, 201 venezuelanos vindos de Boa Vista, em Roraima. As unidades habitacionais, no bairro São José, são compostas por um cômodo (estilo JK) mais um banheiro separado. Além disso, o complexo conta com uma espécie de cozinha industrial, onde também é possível preparar refeições.
As histórias trazidas na bagagem são semelhantes. Para Arnaldo Rodriguez, 38 anos, que deixou o trabalho como padeiro na Venezuela para imigrar ao Brasil, a receptividade está sendo muito boa. “Nós não tínhamos mais nada, nós tínhamos que costurar os tênis porque não tinha mais onde comprar, não tínhamos roupas, comida era só o básico”, relatou. Questionado sobre o neto de três meses, Angel, que nasceu no Brasil, ele enfatizou: “existe tratamento de saúde na Venezuela, mas é muito precário. As mulheres querem ter os bebês aqui pois não tem tanto risco de acontecer alguma complicação e elas e os bebês morrerem”, disse.
Arnaldo ainda relembra quando recebeu um amigo, que imigrou depois dele: “quando ele chegou ao lugar onde eu trabalhava, recebi com carreteiro. Ele chorou ao comer. Eu não comi mais nada, deixei tudo para ele”, contou. Questionado sobre os motivos que o levaram a sair de Boa Vista e vir ao Rio Grande do Sul, disse que era a falta de emprego, que o impossibilitou de seguir pagando aluguel. “Choveu muito, eu estava em uma chácara, não deu mais, fui parar na rua”, lamentou, mas com a esperança de conseguir se recolocar no mercado de trabalho em Canoas.
O Banco de Empregos de Canoas esteve no alojamento coletando dados justamente para agilizar esse desejo. Os relatos dão conta de muitos jovens, com o equivalente ao Ensino Médio e também com cursos técnicos, todos munidos de carteira de trabalho brasileira. Crianças e bebês também dão um colorido especial ao espaço, composto de três andares pintados e unido por um grande hall comunitário. Sorrindo para todos, os venezuelanos trazem na face o semblante de quem chegou para recomeçar.
Quem são e onde estão
Até agora, já são 502 refugiados em solo gaúcho – 288 em Canoas e 214 em Esteio. No dia 27 de setembro, Chapada recebe mais 50 imigrantes. A chegada dos cerca de 80 venezuelanos que serão alocados em Cachoeirinha ainda não teve data definida. Santo Antônio da Patrulha também ainda não definiu se vai ou não receber mais um grupo.
Aproximadamente 800 venezuelanos seguem entrando no Brasil pela fronteira com Roraima, diariamente. A cidade de Pacaraima é a porta para os refugiados, que seguem, majoritariamente, para Boa Vista. Entretanto, conflitos entre brasileiros e venezuelanos já foram registrados em Pacaraima, inclusive culminando com a expulsão dos estrangeiros por parte dos moradores locais. A situação extrema coincidiu com a aceleração do processo de interiorização, que já realocou cerca de 1,8 mil refugiados nas últimas semanas.