UPF inaugura Laboratório de Diagnóstico do Mormo

Atividade ocorreu durante o fórum de debates realizado nesta quarta-feira, dia 5 de setembro, reunindo produtores, técnicos, veterinários, autoridades, acadêmicos e comunidade envolvida com o setor produtivo

Retomar o debate de um tema que trouxe preocupação para toda a cadeia produtiva de equídeos é o que propõe o “Fórum de debates sobre diagnóstico do Mormo”. O evento, promovido pela Universidade de Passo Fundo (UPF), ocorreu nessa quarta-feira, dia 5 de setembro, e marcou a inauguração do Laboratório de Diagnóstico de Mormo da UPF, um dos poucos que existem no Brasil. Vinculado à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV) e localizado junto ao Hospital Veterinário, o laboratório é o único na região e será uma importante ferramenta na detecção da doença.

O Fórum de debates reuniu produtores, técnicos, veterinários, autoridades, acadêmicos e comunidade envolvida com o setor produtivo. Estiveram prestigiando a abertura do evento o vice-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Dr. Rogerio da Silva; o diretor da FAMV, professor Dr. Eraldo Zanella; a coordenadora do curso de Medicina Vetrinária da UPF, professora Dra. Laura Beatriz Rodrigues; o coordenador do evento, professor Me. João Ignácio do Canto; além do representante municipal Edson Nunes e da coordenadora da 7ª Região Tradicionalista (RT) Gilda Galeazzi.

Na abertura, o vice-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Dr. Rogerio da Silva destacou que realizar um debate como esse mostra a preocupação que a Instituição tem do ponto de vista acadêmico e de pesquisa de estar conectado com assuntos relevantes. “Se trata de um assunto extremamente relevante e temos que manter atualizados os nossos acadêmicos, bem como também todos os produtores e toda a cadeia que está envolvida nesse segmento”, afimou ele.

O diretor da FAMV, professor Dr. Eraldo Zanella, frisou que o cavalo é um símbolo do Rio Grande do Sul, o que requer um debate aprofundado em relação à sanidade deste animal. “O mormo é considerado uma zoonose, consequentemente, deve ter um controle bastante rígido. A ideia de erradicação passa por um diagnóstico e o que propomos com esse debate é aletar para isso”, disse ele, considerando que o Laboratório de Diagnóstico de Mormo da UPF tem a capacidade para fazer a análise se o animal, ao apresentar sintomas, é positivo para mormo. “É fundamental que, dentro de uma escola de Veterinária, levemos para debate esses temas. Aqui no estado, trata-se de uma doença emergente que surgiu há cerca de três anos e continua causando uma série de casos. Precisamos ter controle do nosso rebanho”, destaca.

Fórum de debates

A UPF protagoniza o debate sobre o mormo desde 2015, quando oportunizou um encontro importante no I Fórum Gaúcho do Mormo. Em 2016, o Fórum teve sua segunda edição, já alcançando participação internacional, e seguiu em 2017, com encontros regionais. Para 2018, além da inauguração do laboratório, segue o debate sobre a doença infectocontagiosa que tem ocasionado sérios transtornos em vários países do mundo.

Coordenador do evento, o professor Me. João Ignácio do Canto, conduziu o debate. Para ele, para evoluir num processo laborioso como este é preciso envolver os segmentos da cadeia produtiva, tanto da parte de gestão pública federal, estadual e municipal, quanto dos organismos de pesquisa. “Estamos em uma universidade e precisamos envolver os jovens acadêmicos para que possam ter uma visão de que é possível mudar a realidade das coisas na medida em que fazemos um trabalho sério e transparente. Esse Fórum é a continuidade de um trabalho que começou em 2015, tivemos duas edições – uma gaúcha e outra internacional, seguimos com eventos regionais e agora um encontro que marca uma grande conquista: a inauguração do nosso laboratório”, frisa ele, destacando que a Universidade aumenta o escopo de testes já feitos com o credenciamento junto ao Ministério da Agricultura para realização do teste de fixação de complemento do mormo, para emissão de laudo aos produtores que precisarem da Guia de Trânsito Animal.

A programação contou com explanação sobre a evolução do mormo no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil e no mundo, a judicialização do mormo no estado, a apresentação do laboratório da UPF, além de espaço para considerações acadêmicas. Participaram da mesa de debates o coordenador do evento, professor Me. João do Canto; o professor Dr. Luiz Carlos Kreutz, responsável técnico do Laboratório de Diagnóstico Veterinário da UPF; o professor Dr. Leonardo Alves, coordenador do projeto sobre Zoonoses da UPF; a responsável técnica do Laboratório de Diagnóstico Veterinário da UPF, veterinária Priscila Secchi, o procurador da PGE de Passo Fundo, Rodinei Candeia; e a representante da Superintendência do Ministério da Agricultura, Alicia Appel Farinati. Por videoconferência, o evento também teve a participação de Christine Fehlner-Gardiner, da Canadian Food Inspection Agency, do Canadá; e de Alexza Pezoa Adasme, do Servicio Agrícola y Ganadero, do Chile.

A necessidade de conscientização sobre a doença é o que destaca a representante da Superintendência do Ministério da Agricultura, Alicia Appel Farinati. “O mormo é uma zoonose, portanto, uma doença que transmite de animais para os seres humanos. Quanto mais concientizarmos a população, especialmente com acadêmicos de Veterinária, melhor será nosso trabalho em termos de serviço veterinário, que se torna forte e coeso, além de dar agilidade e rapidez para os laudos”, avalia ela, destacando que isso é importante para todo o país. “Temos poucos laboratórios que fazem especificamente o exame de diagnóstico de mormo no país e ter um como este dentro de uma universidade é extremamente importante”, avalia.

Laboratório de Diagnóstico de Mormo da UPF

Credenciado pelo Ministério da Agricultura e acreditado pelo Inmetro, o Laboratório de Diagnóstico de Mormo da UPF está apto a realizar o teste de diagnóstico de mormo através da técnica de complemento – a técnica oficial autorizada para a realização de exames de triagem. O laboratório, que atua junto ao Laboratório de Diagnóstico Veterinário da UPF, já realizava o teste de anemia infecciosa equina. A veterinária Priscila Secchi, responsável técnica do local, explica que o produtor que quiser realizar o teste precisará contratar um médico veterinário habilitado a realizar essa coleta e encaminhamento para o laboratório. “É necessário que o veterinário passe por uma prova da habilitação para realizar a coleta das amostras e encaminhamento para o laboratório fazer o processamento e o diagnóstico da doença. O exame aponta em 24 horas o resultado”, comenta ela. Além de testes de mormo e anemia infecciosa, no espaço são realizados exames que envolvem equinos, bovinos e ovinos, como epididimite bovina, vacina autógena para papilomatose, processamento de leucose bovina, entre outros.

Os números do mormo

Dados de entidades ligadas ao setor apontam que, de 2005 a 2007, os focos de mormo estavam localizados nos estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Já entre 2013 e 2015, os únicos estados sem casos registrados foram Acre, Tocantins e Amapá. Nesse período, o Brasil teve um total de 274 casos, 1 deles no Rio Grande do Sul, 6 em Santa Catarina e 3 no Paraná.

O Rio Grande do Sul, de junho de 2015 até julho de 2017, registrou 44 focos com 71 animais confirmados e 122 animais suspeitos que foram negativos para o teste. Em Santa Catarina, em 2015, foram 12 focos de mormo positivos e outros 72 de animais suspeitos. A última atualização de casos de mormo confirmados no Rio Grande do Sul foi feita em maio de 2016, confirmando 59 casos em 40 focos, conforme levantamento da Defesa Sanitária Animal da Secretaria de Agricultura. Ao todo, 10 casos de mormo estão com diagnóstico pendente em 2018 no estado.

Surtos de mormo têm ocorrido recentemente em diferentes países, com diferentes apresentações clínicas e diagnosticados por diferentes métodos, mas também há registros de mormo sem sintomas clínicos e com diagnóstico definitivo confirmado. Com relação às provas de diagnóstico para o mormo atualmente disponíveis, a Organização Mundial da Saúde Animal recomenda as provas de cultivo bacteriano e prova de reação em cadeia da polimerase (prova de PCR), com propósito de identificação do agente, com algumas ressalvas em seu emprego. Com o propósito de detecção de resposta imune, estão recomendadas as provas de Fixação do Complemento, ELISA, Prova da Maleína e Western Blotting, cada uma delas com algumas peculiaridades.

O teste de ELISA é válido apenas em território nacional. Para trânsito internacional, o exame válido é o de fixação do complemento, aceito pela Organização Mundial da Saúde Animal. Atualmente, para o diagnóstico de mormo, os médicos-veterinários devem ser capacitados e, para isso, há o curso de capacitação MVH, disponibilizado pela Secretaria da Agricultura do estado do Rio Grande do Sul, pelo Programa Estadual de Sanidade Equina.

Fonte: Alessandra Pasinato/UPF