Tragédia deve servir para fortalecer museus, afirma especialista

Na próxima semana, países da América do Sul irão se reunir para debater formas de ajudar na reconstrução do Museu Nacional

Coordenador do Sistema Nacional de Museus do Uruguai, o especialista Javier Royer espera que o incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro, ocorrido no último domingo, sirva para fortalecer a importância do papel dessas instituições.

“Espero que a tragédia se transforme em algo permanente e que fortaleça os museus e sua dimensão social, o seu papel na sociedade, a sua pertinência social. O museu não é só para contar o passado; nos dá elementos para interpretar o que está acontecendo agora e para sabermos onde queremos ir”, afirmou o especialista em entrevista à Agência Brasil.

Javier classificou o incêndio no Museu do Rio como uma perda mundial irreparável. “Uma desgraça e um evento terrível para o campo museológico do Brasil, particularmente dadas as características que tinha o museu.”

Reunião Mercosul

Ele adiantou que, na próxima semana, haverá uma reunião do comitê técnico de museus do Mercosul em que participarão quase todos os países da América do Sul. Na ocasião, serão discutidas formas de as nações colaborarem com a reconstrução do museu brasileiro. “Estamos abertos a colaborar com o que for possível. Na medida em que possam entrar (nos escombros) e avaliar qual é a situação, sobretudo em relação às coleções e o que conseguiram recuperar, é que se definirá como vão reconstruir o museu, como será esse novo projeto”, afirma.

Javier acredita que o Uruguai poderá ceder profissionais e técnicos para contribuir com os trabalhos, mas dificilmente terá condições de apoiar financeiramente o Brasil.

Investimentos

Ele destacou a necessidade de valorização do patrimônio museológico e de investimentos a longo prazo no setor. “O sistema em que vivemos, com o consumismo e as novidades permanentes, gera certo desapego e a noção de que não é necessário conservar, onde é tudo descartável. Mas há muitas coisas que não são descartáveis. Tem a ver com o que se entende como valioso. E isso é algo que nós, dos museus, temos que trabalhar, pois o patrimônio é parte da memória do mundo”, destacou.

Javier reconhece que nem sempre é possível evitar danos ao patrimônio, mas detalha a experiência do Uruguai, que investiu em políticas de prevenção de riscos de origem natural (inundações, queda de árvores, etc) e humana (roubos, vandalismo, depredações).

“Em 2010, quando assumi a coordenação nacional do sistema de museus, não tínhamos nenhum museu com sistema de segurança. Hoje, todos os museus vinculados têm. Estou falando de sensores de fumaça, de incêndio, câmeras de vigilância e sensores contra furto. Foi feito um investimento e seguimos fazendo porque a tecnologia vai mudando e temos que atualizar esses sistemas eletrônicos”, contou.