As Balzaquianas

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Em algum lugar do passado, e já faz tempo, um dia cheguei na casa dos 30 anos. E quando guria, ouvia falar das Balzaquianas, me sentia idosa e, ao mesmo tempo, curiosa sobre o segredo das trintonas, o que tinham de tão especial que eram tão endeusadas?

E a gente ouvia Miltinho cantando no rádio: “Você, mulher que já viveu, que já sofreu, não minta. Um triste adeus nos olhos seus a gente vê, Mulher de Trinta…”. E até marchinha de carnaval cantando as Balzaquianas animavam os salões: “Não quero broto, não quero não, não sou garoto. Sete dias da semana eu preciso ver, minha balzaquiana. O Francês, sabe escolher, por isso, ele não quer qualquer mulher, Papai Balzac, já dizia, Paris inteira repetia, Balzac acertou na pinta, mulher só depois dos trinta.”

Era bem assim, uma mulher chegar aos 30 anos era destino traçado. Em 1842, o livro de Honoré de Balzac, que completa 186 anos em 2018, abordava o tema “Mulher de Trinta Anos“ – só em certa idade as mulheres requintadas sabem dar caráter à sua atitude. O desgosto e felicidade dão à mulher de 30 anos, feliz ou infeliz, o segredo dessas eloquentes atitudes”, escreve Balzac, frase que passou a definição universal de um tempo na vida de uma mulher.

Enquanto no século 19 as mulheres se atrelavam a um casamento mal sucedido para o resto da vida, as trintonas do século 21 se independizaram, não estão nem aí para a idade. Libertas dos preconceitos, corajosamente fazem tudo o que queriam fazer aos 20 anos e não tinham coragem. Há também a percepção de que são mais livres de pudores, obrigações e caraminholas sentimentais.

À medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30. Mas também não desmereço os meus 60 e “guaraná com rolha”!

Para arrematar, uma curiosidade: alguns anos antes de morrer, a musa Marilyn Monroe colocou um anúncio no jornal que dizia: “Mulher simples, 30 anos, bem em todos os sentidos, mas, até agora, muito pouco feliz no amor, com rendimento médio de quinhentos mil dólares por ano, procura homem honesto e sensível, pode ser calvo, para relação séria. Responder a Marilyn Monroe, Sutton Place, Nova Iorque.”

Ela nunca recebeu uma única resposta!