Agricultura familiar: 20 anos de uma história de sucesso

Na feira são 32 expositores orgânicos, 12 em um espaço próprio e outros 20 distribuídos nos diversos estandes

Foto: Divulgação SDR

Em 1999, eram 30 expositores sob uma lona preta, em uma área improvisada de chão batido. Em 2018, são 7 mil metros quadrados de área construída e 285 expositores. Ao longo do tempo, a oferta de produtos cresceu em diversidade e qualidade, assim como o faturamento dos empreendedores rurais, saltando de R$ 80 mil nos primeiros anos para quase R$ 3 milhões em 2017 – 35 vezes maior. Em 20 edições da Feira da Agricultura Familiar na Expointer, a evolução do espaço e da produção pode acontecer diariamente. E alguns dos pioneiros da feira têm muitas coisas para lembrar.

“Foi sofrido, a gente se molhava, o vento levantava a lona, a mercadoria molhava e, às vezes, atendíamos com os pés encharcados de água”, lembra Imiran Camargo dos Santos, artesão de Rincão dos Camargo, em Santo Antônio das Missões, que participou da primeira edição da feira, em 1999, em companhia do irmão Joselmo, com produtos em couro. “Nada se consegue sem luta”, afirma Imiran, que hoje comemora os negócios em novo pavilhão, mais espaçoso, organizado e com o conforto de climatizadores.

Para o agricultor Romeu Ferreira dos Passos, da Agroindústria Daiane, de Cândido Godói, que também participa desde o início, a feira foi importante para dar visibilidade ao produto. “Nós fomos os pioneiros, e quem está aí hoje tem que agradecer o nosso sacrifício”, reivindica. Ele e sua família produzem derivados orgânicos da cana-de-açúcar.

Para o secretário do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Tarcisio Minetto, “o crescimento da agricultura familiar na Expointer foi possível graças à união de muitas pessoas e entidades, que reconhecem o segmento como um importante vetor de desenvolvimento.”

As vendas

Em 1999, as vendas foram pouco significativas. Mas a proposta foi crescendo e tomando corpo. Em 2001 já eram 56 bancas e 150 expositores comercializando R$ 80 mil. Conforme estudos da Emater, em 2003, já eram 140 bancas e o volume de vendas chegou a R$ 220 mil. Em 2005, foi construído o pavilhão definitivo com 4,2 mil metros quadrados e participação de 200 agroindústrias. O faturamento foi de R$ 310 mil. No ano de 2011, o pavilhão bateu recorde e ultrapassou a marca de 1 milhão de reais com 166 bancas. Em 2015, a comercialização bateu a marca de R$ 2 milhões. E neste ano, os balanços parciais apurados pela SDR indicam um aumento expressivo de até 111% apenas nos quatro primeiros dias de feira. O total de R$ 1.495.075,40 corresponde ao faturamento total do ano de 2013.

Os primeiros

Romarise de Azevedo Klein, de Três Cachoeiras, trabalha com artesanato em fibra vegetal e participa desde a primeira edição da feira. “No início foi muito difícil, até fome passei, porque além da estrutura precária, eu não tinha experiência. Sempre trabalhei na roça, nunca tinha participado de uma feira.” O trançar e fabricar cestos, balaios, guirlandas e vasos, ela aprendeu com as duas bisavós índias. Não sabe de que etnia, mas lembra que desde pequena já ajudava na colheita e produção. Para ela, a Expointer é um bom espaço de comercialização e de contatos. “Os meus clientes também são a minha família.”

“No começo, o chão era coberto com casca de arroz, depois passou para brita e hoje está este piso bonito.” Assim resume Felipe Gehrke, da Coopernatural de Picada Café, que participa da feira há 19 anos. “Eu estava naquela estufa”, brinca ele. “E vê onde estamos hoje. Tudo melhorou, olha o espaço físico, a organização, tudo está muito bom”, elogia. A Cooperativa produz geleias, sucos, nozes, cerveja, tudo na linha dos orgânicos. Para Felipe, “o mercado de orgânicos está em expansão, cresce cada vez mais. Até na Alemanha já estivemos exibindo os nossos produtos, além de vender para todo o Brasil.”

Na feira são 32 expositores orgânicos, 12 em um espaço próprio e outros 20 distribuídos nos diversos estandes.

A Feira da Agricultura Familiar na Expointer é viabilizada com parceria da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), ligada à Casa Civil da Presidência da República e administrada pela SDR em conjunto com a Sead, Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), Emater, Fetag/RS, Fetraf/RS e Via Campesina.

A importância da agricultura familiar

Segundo o Censo Agropecuário de 2006, a agricultura familiar constitui a base econômica de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, responde por 35% do produto interno bruto nacional e absorve 40% da população economicamente ativa do país.

O setor produz 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e 21% do trigo do Brasil. Na pecuária, é responsável por 60% da produção de leite, além de 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos do país. O setor também emprega 74% das pessoas ocupadas no campo, de dez postos de trabalho no meio rural, sete são de agricultores familiares.

Ano – Valores comercializados

2017 – R$ 2.851.010,62
2016 – R$ 2.033.801,66
2015 – R$ 2.200.504,99
2014 – R$ 1.953.000,00
2013 – R$ 1.500.000,00
2012 – R$ 1.252.137,05
2011 – R$ 1.041.293,81
2010 – R$ 825.873,81
2009 – R$ 992.136,29
2008 – R$ 770.019,21
2007 – R$ 591.172,35
2006 – R$ 459.952,00
2005 – R$ 310.161,00
2004 – R$ 252.339,00
2003 – R$ 220.858,15
2002 – R$ 124.000,00
2001 – R$ 80.000,00