Produtora cultural fala em cerceamento em edital para ópera rock sobre a Revolução Farroupilha

Para gerente do Fumproarte, é legítimo que a Câmara de Vereadores indique o formato e a obra na qual o espetáculo vai se inspirar, já que a verba é do Legislativo

Causa polêmica o anúncio da abertura de seleção de propostas para um espetáculo cênico de ópera rock baseado em uma obra sobre a Revolução Farroupilha, em parceria entre a Câmara de Vereadores e a Secretaria da Cultura de Porto Alegre. O valor a ser aportado chega a R$ 350 mil, com recursos previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) da Câmara de Vereadores, para criação, produção e apresentações do espetáculo musical, baseado na obra Revolução Farroupilha, uma História de Sangue e Metal, de Luiz Coronel e Danúbio Gonçalves.

Os questionamentos feitos por pessoas ligadas a área cultural envolvem o valor investido, a escolha da obra e o fato de não ter ocorrido consulta ou debate a respeito. Para a produtora cultural Cristiane Marçal, de maneira geral, editais fazem um cerceamento à criação. “E no caso deste edital, especificamente, ele impõe não só o objeto artístico, como o gênero teatral e musical, a obra na qual vai se basear e até o título do espetáculo. É uma coisa feita totalmente sob encomenda, entende? Enquanto política pública cultural ele não funciona”, comentou Cristiane.

A produtora cultural disse ainda que chama a atenção a existência desse valor para investimento em cultura. “Ninguém sabia. É um dinheiro que foi aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Ele existia e no ano passado não foi usado. Existir esse dinheiro, não fazer nada sabendo que existe um mercado de cultura despedaçado financeiramente, não utilizar esse dinheiro e quando utilizar fazer o que bem entende, não é política pública. Isso é outra coisa”, disse Cristiane Marçal.

Cristiane entende, no entanto, que o valor de R$ 350 mil é compatível com a forma proposta para o espetáculo. “Para fazer uma coisa bem feita, exige uma estrutura muito grande, pagar muitos técnicos, pagar elenco, ensaios”, ponderou.

O gestor do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural (Fumproarte), Miguel Sisto, esclareceu que o espetáculo compreende três linguagens – dança, teatro e música – e vai ser apresentado na Orla do Guaíba, exigindo estrutura de grandes dimensões. Esses dois fatores fazem com que investimento maior seja necessário, além do fato de as apresentações também serem realizadas em dez escolas. O Fumproarte é o órgão responsável por organizar a seleção.

Sobre o prazo para inscrições do edital, que se iniciou em 9 de julho e termina em 20 de agosto, Sisto declarou que a burocracia colocou diferentes tipos de impedimentos desde o início do processo, em fevereiro. “A ideia era fazer a apresentação no mês de setembro, mas não foi possível. É preciso sempre passar por uma análise jurídica  e os pontos foram discutidos um a um. É o primeiro edital da Câmara desse tipo”, disse. As apresentações estão previstas para o mês de novembro.

Quanto à escolha da obra, o responsável pelo Fumproarte comentou que gostos pessoais não podem ser colocados em questão e que a liberdade de escolha por parte da Câmara de Vereadores está legitimamente constituída, já que o recurso é da Casa. “A Secretaria de Cultura pode aderir ou não aderir. Nós aderimos porque nos interessa que se fomente o mercado das artes e que os artistas possam receber bem por um trabalho que é bem feito. Se fosse uma outra obra qualquer nós provavelmente teríamos todo o interesse também. Porque nos interessa o resultado final”, defendeu o gestor.

Procurado pela reportagem da Rádio Guaíba, o presidente da Câmara, Valter Nagelstein (MDB), disse não ter interesse em se manifestar sobre o assunto.