Buscas na internet sobre termo “machismo no Brasil” cresceram 263%

Pesquisa mostra que, apesar disso, ainda há muita confusão e falta de informação sobre o tema

De 2016 para cá, internautas brasileiros demonstraram mais curiosidade em pesquisar o termo “machismo” em canais de busca, apesar de ainda existir falta de informação ou confusão sobre o tema. O apontamento é parte de uma pesquisa realizada pelo Google BrandLab, que realizou 700 entrevistas online em diversos estados brasileiros e analisou o resultado nos canais de busca do Google e YouTube.

As consultas com o termo “machismo no Brasil” aumentaram 263% nos últimos dois anos, pulando da 9ª posição para 3º em volume de busca, e a existência do machismo no país é uma verdade assumida por 78% dos brasileiros que participaram do levantamento.

No entanto, a pesquisa mostra que, apesar do crescimento do interesse, ainda há muita confusão e falta de informação sobre o tema. Para metade dos homens, machismo e feminismo são movimentos equivalentes. “O feminismo está disputando não é a hegemonia de um grupo sobre o outro, mas as relações de igualdade entre homens e mulheres”, explica o pesquisador do Núcleo sobre Sexualidades, Gêneros, Feminismos e Diferenças da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Fábio Mariano. O machismo, por outro lado, é o esforço para manter as assimetrias entre os gêneros.

Patriarcado e masculinidade
O levantamento apontou que o conceito de “masculinidade tóxica” é desconhecido por 75% dos homens no Brasil. O termo explica que machismo e masculinidade hegemônica vêm a partir da construção do patriarcado, que é o sistema que, na construção do Estado, colocou as mulheres na esfera privada, cuidando da casa e dos filhos, e os homens na arena pública. “Responsável por manter a casa e por ocupar os espaços da política, onde se disputa poder”, salienta Mariano.

“A masculinidade vem referendar isso dizendo para o homem: ‘você precisa provar que é homem, assimilar determinados comportamentos’”, complementa o pesquisador. Essa construção é, segundo Mariano, tóxica ao dar aval para uma série de práticas nocivas à sociedade.

Paternidade
Entre os comportamentos ligados ao padrão dominante de masculinidade que, de acordo com a pesquisa, vem sendo questionado pelos homens, está o cuidado com os filhos. Para 88% dos brasileiros, ser um bom pai é participar ativamente do cotidiano dos filhos, enquanto 40% da audiência do YouTube de vídeos sobre cuidados com bebês é masculina.

Contradições
A combinação de atenção aos filhos com responsabilidade com as tarefas domésticas não é, no entanto, um consenso ente os brasileiros. Para apenas 34%, os homens também devem assumir como tarefa o trabalho doméstico.

O pesquisador da PUC-SP ressalta que as contradições são ainda maiores. “Os números de violência continuam crescendo. O Brasil é o país que mais mata LGBTS, é o país em que uma mulher é assassinada a cada duas horas”, enfatiza o pesquisador sobre os fenômenos, que relaciona ao machismo, a masculinidade tóxica e a construção patriarcal da sociedade.