Empresa de coronel Lima atendeu a demandas públicas e privadas de Temer, sustenta PF

Afirmação aparece em mais um pedido de prorrogação do inquérito que investiga o presidente, aceito hoje pelo ministro Luiz Roberto Barroso, do STF

Em relatório sobre o inquérito dos Portos enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o delegado da Polícia Federal Cleyber Malta Lopes sustenta que a empresa Argeplan foi utilizada para atender “demandas da vida pública e privada” do presidente Michel Temer. A Argeplan é dirigida, entre outros sócios, pelo coronel João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, amigo do presidente e um dos alvos da investigação. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

No mesmo documento, o delegado também fala que o decreto dos Portos, assinado por Temer em maio de 2017, atinge empresas com vínculos financeiros suspeitos com a Argeplan, outras pessoas e empresas que mantêm relação com o grupo político do presidente. Tanto a Argeplan como o coronel Lima foram alvos da operação Skala, desdobramento do inquérito dos Portos.

A PF trabalha com a hipótese criminal de que a empresa tenha sido utilizada como intermediária de repasses de empresas com negócios no Porto de Santos para o presidente. As afirmações de Malta aparecem no pedido encaminhado ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF, no qual o delegado solicitou a prorrogação da investigação por mais 60 dias.

De acordo com o Estadão, o ministro pediu manifestação à Procuradoria-Geral da República, mas autorizou a manutenção das diligências em andamento até que Raquel Dodge se manifeste. Malta elencou no pedido as diligências cumpridas ao longo do inquérito, instaurado em setembro de 2017, e pontuou que, além das relações da Argeplan com empresas com atuação do setor portuário, as informações coletadas “demonstraram dezenas de ligações da Argeplan, seus sócios e outras empresas interligadas, diretamente com a vida política e privada de Michel Temer”.

Reforma

Para o delegado, a relação entre Temer e o coronel Lima ganha “mais relevância” após a descoberta de que a Argeplan atuou na reforma de um apartamento da filha do presidente, Maristela Temer. Em depoimento prestado ao delegado, Maristela disse que bancou as despesas, que foram de cerca de R$ 700 mil.

A versão, segundo Malta, não é mesma dada por pessoas que atuaram na obra. “Nos valores e recibos apresentados por Luiz Eduardo Visani, contratado para fazer parte da obra, temos que o valor pago por João Batista, na sede da Argeplan, aproximadamente R$ 950 mil em dinheiro vivo, já superior ao que se alega gasto por Maristela Temer, ainda que tenha como comprovar tais pagamentos”, completa Malta.

Defesas

O advogado Cristiano Benzota, que representa o coronel Lima, disse que ele “refuta veementemente todas as acusações e garante que não cometeu ou participou de qualquer fato ilícito ou irregularidades.”

O advogado Brian Alves Prado, que representa Temer no caso do Decreto dos Portos, disse que “o pedido de renovação evidencia a ausência de elementos de prática de crime pelo presidente da República”.