Rede de proteção a mulheres vítimas de violência, ocupação Mirabal conquista nova sede

Mulheres e crianças em vulnerabilidade social poderão ser acolhidas em novo prédio

Hoje, dez mulheres e quatro crianças vivem no local | Foto: Roberta Requia / Especial / CP

Ameaçada de despejo, a ocupação Mirabal – uma das principais redes de proteção a mulheres vítimas de violência doméstica em Porto Alegre – conquistou nova sede. Ainda não há previsão para a mudança, mas as integrantes do grupo devem ocupar o prédio que pertenceu à Escola Benjamin Constant, no bairro São João, na zona Norte.

Hoje, dez mulheres e quatro crianças vivem na ocupação, na rua Duque de Caxias, no Centro. Com o pedido da Congregação dos Irmãos Salesianos de reintegração de posse do prédio, em junho, a preocupação do Movimento de Mulheres Olga Benário, que coordena a Mirabal, era não ter um local para abrigar as vítimas de violência. Após muita luta e reuniões, o governo do Estado e a prefeitura de Porto Alegre ofereceram para a ocupação o espaço da escola, fechada este ano pelo governo.

“É uma conquista ter o novo prédio. Mas é só o começo, precisamos resolver muita coisa ainda. Mas é uma conquista só por não termos mais que passar todos os dias com medo de sermos mandadas para a rua”, revela Sarah Domingues, uma das coordenadoras da Mirabal.

Nessa segunda-feira, o Movimento de Mulheres Olga Benário visitou as dependências do novo prédio e solicitou ao Grupo de Trabalho, que envolve o governo do Estado e a prefeitura, conserto no telhado e a ligação da energia elétrica. Os serviços devem ser realizados de forma comunitária. A estrutura é um pouco menor do que a que ocupação do Centro, mas as organizadoras dizem que conseguem seguir com o trabalho no novo espaço.

Mas até que a obra seja finalizada e os trâmites burocráticos sejam concluídos, a reintegração de posse pode ser cumprida pela Justiça. Por isso, o Grupo de Trabalho solicitou aos Salesianos prazo de 90 dias para que a mudança seja realizada, evitando que a ocupação seja despejada do atual local. A reportagem procurou a congregação, mas até a publicação da matéria não obteve retorno.

Ocupação já acolheu cerca de 200 mulheres

A ocupação nasceu em novembro de 2016 e, desde então, acolheu cerca de 200 mulheres e abrigou mais de 70, além dos filhos delas. “Nosso foco é ser centro de referência e o abrigamento é feito em último caso”, explica Sarah.

A rede de apoio às mulheres vítimas de violência, como a Mirabal, é apontada pelo Atlas da Violência, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), como alternativa concreta para reduzir o número de feminicídios no Brasil, prestando apoio para tirar as vítimas de um ciclo de violência.

Em dez anos, o número de mulheres assassinadas teve alta de 90,1% no Rio Grande do Sul, passando de 162 casos, em 2006, para 308, em 2016. Em todo o País, a alta no período chegou a 15,3%, passando de 4.030 homicídios para 4.645. Por isso, a importância de que movimentos, como a Mirabal, persistam no Rio Grande do Sul.