“Bofetão na cara”, critica prefeito de Santa Maria sobre fala de ministro sobre toxoplasmose

Gilberto Occhi afirmou que surto veio da água. Horas depois, Ministério da Saúde reiterou que essa é uma das possibilidades ainda em investigação

Dois dias depois da coletiva de imprensa em que técnicos do Ministério da Saúde admitiram ainda não ter chegado ao foco do surto de toxoplasmose em Santa Maria, declarações dadas hoje à imprensa pelo titular da Pasta repercutiram mal na cidade. Pela manhã, o ministro Gilberto Occhi declarou a um emissora de rádio de Porto Alegre que a enfermidade veio “da água”, o que surpreendeu o prefeito Jorge Pozzobon.

De acordo com ele, o ministro deu um “bofetão na cara” da cidade ao ter indicado a suposta causa sem, antes, informar um represente local em primeira mão. Pela manhã, em entrevista coletiva, Pozzobon já havia chamado a fala de “irresponsável”. Horas depois, o Ministério minimizou as declarações, dizendo que a contaminação pela água é uma das hipóteses ainda sob investigação. De acordo com a Pasta, já foram descartadas outras origens, como consumo de frutas, carne suína, frango e carne bovina.

Mesmo considerando a emissão da nota fundamental, o prefeito salienta que a cidade ficou assustada, e lembrou que a fala do ministro acabou repercutindo em todo o Brasil.

A secretária municipal de Saúde, Liliane Mello, reitera que, na segunda-feira, técnicos deixaram Santa Maria e voltaram a Brasília afirmando que não havia nenhuma possível origem do surto identificada, embora o mais provável é que tenha fundo ambiental. Ela salienta que município, Estado e o governo federal ainda não “bateram o martelo” sobre a origem da toxoplasmose, que teve 569 casos confirmados até o momento. Hoje à tarde, a secretária também criticou a fala do ministro.

Já a Secretaria Estadual da Saúde informou, em nota, que os resultados de todas as análises realizadas até o momento deram negativo para a presença do protozoário Toxoplasma gondii e que, por isso, a declaração do ministro não pode ser confirmada. Além disso, a Pasta lembrou que seguem sendo examinadas, no Paraná, outras análises de água, incluindo amostras provenientes de açude, poço artesiano, vertente e lodo em residências onde pacientes adoeceram. A Pasta reiterou a necessidade de se manterem as medidas preventivas de contágio (veja abaixo), mas destacou que não há registro de pessoas que tenham apresentado sintomas de toxoplasmose depois de 10 de maio.

Também procurada pela reportagem, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) reuniu diretores para discutir o caso, na tarde de hoje, e ainda não se manifestou.

Confira as notas oficias emitidas pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Estadual da Saúde: 

Nota Oficial do Ministério da Saúde

“O Ministério da Saúde em conjunto com o governo do Estado e do município investigam a fonte de transmissão do surto de toxoplasmose que ocorreu no município de Santa Maria (RS). Na investigação do caso feita por meio de entrevista com a população, uma das conclusões é a possível fonte de infecção pela água. Já foram descartadas outras origens, como consumo de carne suína, frango, carne bovina e frutas. Outros fatores permanecem em análise. O Ministério da Saúde informa que tem auxiliado o estado do Rio Grande do Sul e Santa Maria na investigação dos casos, mantendo equipe do EpiSUS no município desde o dia 26 de abril. Os técnicos deixaram o município nesta semana para analisar os dados colhidos na região”.

Nota Oficial da Secretaria Estadual da Saúde

“A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que segue em andamento o trabalho de investigação da fonte de contágio da toxoplasmose no município de Santa Maria. Até o momento, já foram analisadas no laboratório de referência (na Universidade Estadual de Londrina) amostras de água da Estação de Tratamento da Corsan, de reservatórios de água de residências onde há casos confirmados além de água utilizada no processo cultivo de hortaliças. Todas elas deram resultado negativo quanto à presença do DNA de protozoário que causa a doença, o Toxoplasma gondii. Ainda estão sendo examinadas no Paraná outras análises de água, incluindo amostras provenientes de açude, poço artesiano, vertente e lodo de reservatórios de água de residências de outros casos confirmados.

Em paralelo, as equipes de saúde do Estado, município e Ministério da Saúde seguem analisando os relatórios produzidos a partir de entrevistas com mais de 300 casos positivados. Isso busca identificar hábitos comuns entre eles de consumo de água e alimentos.

Apesar dos registros que já indicam a redução na ocorrência de novos casos – sem novos casos confirmados com data de início de sintomas depois do dia 10 de maio – a orientação da SES é que se mantenham as medidas de prevenção à doença: como a lavagem de mãos; ferver a água antes do consumo; realizar a desinfecção das caixas d’água dos estabelecimentos residenciais e comerciais; não consumir carnes cruas, malpassadas, sushi ou não provar a carne crua durante a preparação; e alimentar gatos com ração, não deixando que façam ingestão de caça ou carne crua. As gestantes precisam de cuidados extras: como não consumir alimentos crus; evitar atividades de jardinagem em geral, exceto com uso de luvas; evitar o contato com fezes de gato no lixo ou no solo e, se houver contato, higienizar corretamente as mãos; evitar trocar a caixa de areia de gatos domésticos e, caso não seja possível, deve-se limpar e trocar a caixa diariamente, utilizando luvas e pazinha, além de colocá-la ao sol com frequência”.