O LUPANAR DA DIVA

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Diva era dona de um cabaré logo ali na“Volta da Cobra”… era gorda, farta de peitos, e cabelos loiros oxigenados.Usava roupas extravagantes e muito coloridas.Famosa nas Bandas de Belém Velho, mantinha um plantel de moçoilas, daquelas que “fornecem vianda para fora”, pasto para os gaudérios que atavam seus cavalos no palanque na frente do rancho da famosa “percanta” em busca dos falsos carinhos do plantel de Diva…

Quando guria, lá pras bandas da fronteira “se apaixonou-se” por um viajante, daqueles mascates que vendiam de um tudo, com a mala cheia de quinquilharias e uma prosa fácil de enganar bobo na casca do ovo.Vai daí que perdeu a virgindade levada pelo vendedor de bugigangas e, expulsa de casa pelo pai severo, foi dar com os costados na cidade grande levada por um desejo de se empregar de doméstica que era a única coisa que uma moça da época que “se perdia” poderia sonhar.

Já na rodoviária da capital, foi laçada por um proxeneta daqueles que ficam só “curingando” quando chega uma desasada do interior e na conversa “lengalenguiada” foi criando a falsa ilusão de um trabalho em casa de uma dama onde a vida seria muito fácil…por isso chamam até hoje as mulheres da vida como sendo mulheres de vida fácil…E a pobre Maria Angélica (era esse o seu nome verdadeiro), depois de prestar serviço em alguns bordéis da Voluntários, virou Diva – pois como era linda e conservava uma certa inocência foi muito requisitada até que conquistou à duras penas o seu espaço, escondendo os pilas nos mais recônditos lugares e, quando ajuntou o suficiente, se bandeou para o Belém Velho e montou um lupanar que se tornou famoso na época. Não havia gaúcho que não passasse por ali, não apeasse do pingo e fosse molhar a garganta e aliviar o sobrecarrego das lides campeiras nos braços das mimosas de dona Diva.

Dizem que inspirou poetas e trovadores porque Diva, que aprendeu a valorizar o ofício, não fazia só comércio das queridas, e sim o cabaré era lugar de boêmios e seresteiros que lá buscavam inspiração para os seus versos.Tanto ficou famosa que tinha até vários afilhados entre eles o Candoca, que herdou o prostíbulo quando Diva se finou e foi prestar contas do outro lado do véu.Mas daí já não tinha mais graça, não tinha o “approach” (a sustância), o “feeling“, isto é, o tino da velha dama que marcou época com uma das casas de maior frequência da “gauderiama”.

Dizem que composições como “Percanterio“, “Baile das Cabritas”, “Recuerdo da 28″,”O Boca Braba” foram pensadas lá …..entre um gole e outro de canha e cantoria nas noites em que famoso cantor de voz forte e muito parecida com Nelson Gonçalves se aventurava a pontear uma guitarra ao lado dos amigos, só por “fula“!