Delegado que investigou caso de crianças esquartejadas em NH é afastado

Foto: Polícia Civil / Foto: CP / Reprodução

Delegado que investigou caso de crianças em NH é afastado. Foto: CP / Reprodução
Delegado que investigou caso de crianças em NH é afastado. Foto: CP / Reprodução

O delegado Moacir Fermino, 67 anos, foi afastado das funções da Polícia Civil por, pelo menos, 30 dias. O pedido foi realizado pela Corregedoria da Polícia Civil (Cogepol), que apura a conduta do delegado no caso das crianças esquartejadas em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Fermino assumiu as investigações do caso entre dezembro e janeiro, durante as férias do delegado Rogério Baggio, titular da Delegacia de Homicídios da cidade.
De acordo com o corregedor-geral da Polícia Civil, delegado Marcos Meirelles, o afastamento é para preservar o próprio delegado. Fermino não está mais à frente da 2ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo desde sexta-feira, quando o poder judiciário acatou o pedido da Corregedoria. O afastamento pode ser prorrogado por tempo indeterminado. A Cogepol investiga também a conduta dos policiais que participaram da investigação, que concluiu que as crianças teriam sido esquartejadas em possível ritual macabro. Contudo, eles seguem exercendo suas funções.
A Cogepol busca entender o motivo que fez Fermino pedir a prisão dos suspeitos com base apenas em testemunhas – que admitiram depois terem mentido durante o depoimento. A Corregedoria está ouvindo novamente as testemunhas e, inclusive, os cinco homens que teriam sido presos sob a suspeita de terem sacrificado as crianças.
“Conversamos com alguns dos presos, e, durante a tarde, devemos conversar com os demais. A gente está apurando e vamos manter a fala deles em sigilo, para não prejudicar as investigações”, explicou o delegado.

A Cogepol teria que finalizar o processo até esta sexta-feira, já que a Polícia Civil tem até dez dias para finalizar um inquérito após a prisão de algum investigado. No último dia 7, um homem foi detido em São Leopoldo suspeito de falso testemunho. Contudo, Meirelles disse que ainda hoje pedirá prorrogação do caso à Justiça, alegando “tempo insuficiente para concluir o inquérito”

“Tudo uma grande mentira”
Ao reassumir o caso, um dia após Fermino anunciar a prisão de três suspeitos e alegar que as crianças foram esquartejadas em ritual macabro, o delegado Rogério Baggio apurou todos os passos da investigação e concluiu que “tudo era uma grande mentira”.
Ele solicitou então à Justiça que os presos fossem libertados. A juíza de Direito Angela Roberta Paps Dumerque, da Vara do Júri da Comarca de NH, acatou o pedido e, em 7 de fevereiro, retirou da prisão os cinco detidos. No mesmo dia, Baggio declarou que a investigação do caso havia voltado “a estaca zero”.
“Revelação divina”
Em entrevista coletiva à imprensa, em janeiro, Fermino disse que concluiu que as crianças teriam sido sacrificadas em ritual macabro através de uma “revelação divina”. Com base em testemunhas, ele solicitou a prisão de sete suspeitos, sendo que cinco deles foram detidos e encaminhados ao sistema prisional.
“Foi uma revelação de dois profetas de Deus. Quando eu cheguei na delegacia, um deles me ligou, dizendo que tinha informações e que era para eu pegar um caderno para anotar. Foi uma revelação divina”, destacou o delegado.
Sobre o caso
Em 4 de setembro de 2017, duas crianças foram encontradas esquartejadas no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. As partes dos corpos estavam embaladas em sacolas plásticas e em caixas de papelão em um mato às margens da rua Porto das Tranqueiras.
Segundo a perícia, os corpos são de um menino, entre 8 e 9 anos, e de uma menina, entre 10 e 12. As crianças são irmãs apenas por parte de mãe. Há a suspeita de que elas sejam argentinas, provavelmente da região de Corrientes, e tenham sido trocadas por uma caminhonete roubada.
O delegado Fermino disse que o susposto ritual teria sido encomendado por dois empresários do ramo imobiliário para atrair prosperidade aos negócios. Os homens, de Novo Hamburgo, teriam pago R$ 25 mil à vista para um bruxo realizar o sacrifício.
A Polícia Civil localizou em Gravataí um templo, onde os supostos rituais seriam realizados. Escavações foram feitas no terreno do local e apenas um fêmur de um animal foi localizado.
Em 7 de fevereiro, o delegado Rogério Baggio afirmou que tudo era uma “mentira”. Os presos foram então libertados e a investigação voltou a estaca zero.