"Não temos mais nada de concreto", diz delegado sobre crianças esquartejas em NH

Justiça concede liberdade a suspeitos de esquartejar crianças em possível ritual satânico | Foto: Policia Civil / Divulgação / CP

Justiça concede liberdade a suspeitos de esquartejar crianças em possível ritual satânico | Foto: Policia Civil / Divulgação / CP
Justiça concede liberdade a suspeitos de esquartejar crianças em possível ritual satânico | Foto: Policia Civil / Divulgação / CP

A investigação sobre as duas crianças que foram encontradas esquartejadas em uma estrada de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, mudou de rumo na manhã desta quarta-feira (07). Durante acareação, quando testemunhas são colocadas frente a frente para depôr, três pessoas afirmaram que foram coagida a dar depoimento e mudar a real versão dos fatos. Segundo o delegado Rogério Baggio, responsável pelo caso, desde hoje, a Polícia Civil voltou à estaca zero no inquérito que, inicialmente afirmava que as crianças teriam sido esquartejadas em possível ritual macabro para atrair prosperidade no ramo imobiliário.
Em entrevista à Rádio Guaíba, Baggio informou que a Polícia Civil trabalhou incansavelmente e analisou minuciosamente os detalhes do inquérito que mostravam algumas falhas, segundo o delegado. “Lemos todos os depoimentos dos investigados, analisamos o histórico deles, e a partir do momento e que tivemos o acesso ao estudo detalhado, percebemos que havia algumas pequenas contradições e, a partir disso, ouvimos três testemunhas novamente que, depois de muita insistência afirmaram ser tudo mentira o que sabíamos até o momento”, comenta.
Baggio informou que uma testemunha, a terceira a ser interrogada, contou à Polícia que seu pai era quem havia criado a história fictícia. “Ele confirmou que o pai era quem estava coagindo as testemunhas a mentirem, em troca de moradia, alimentação e uma proteção à testemunha que é oferecida pelo Governo. Quando conseguimos chegar até o homem, expedimos o mandado de prisão preventiva e ele foi preso hoje pela manhã”, salienta o delegado.
A Polícia Civil garantiu à reportagem que não pode divulgar o que motivou o homem a obrigar as testemunhas a mentir e nem qual o interesse dele em prejudicar o inquérito e as crianças. Além disso, Baggio comentou que não pode afirmar até o momento quantas pessoas participaram do crime, pois, segundo ele, “não há nada de concreto, já que o inquérito volto à estaca zero”.
As três testemunhas que fizeram falso depoimento serão indiciadas por denunciação caluniosa e falso testemunho e a PC tem dez dias para entregar o processo a partir de hoje. Já sobre o inquérito das crianças esquartejadas, Baggio diz ser “impossível terminar no prazo possível (15 de março)  já que não temos nada que nos leve a autoria desse crime”.
Justiça decreta liberdade provisória de envolvidos 
A Justiça de Novo Hamburgo concedeu na tarde desta quarta-feira (04) a liberdade provisória a sete homens suspeitos de terem matado duas crianças em suposto ritual de magia negra, com propósito patrimonial. O pedido foi formulado pelo Delegado Rogério Baggio, responsável pelo caso e recebeu parecer favorável do Ministério Público.
A decisão da Juíza de Direito Angela Roberta Paps Dumerque, da Vara do Júri da Comarca de Novo Hamburgo, se refere aos cinco homens que estavam presos e aos outros dois foragidos. “Considerando que as decisões que anteriormente decretaram prisões temporárias e preventivas se basearam na investigação policial apresentada e postulação do Delegado de Polícia responsável pela investigação à época e neste momento, com o aprofundamento das investigações, se observa que as novas informações angariadas ao feito possuem o condão de derruir o conjunto probatório até então existente, revogo a prisão preventiva e concedo a liberdade provisória”, considerou a magistrada por meio de nota.
Sobre o caso
Em 4 de setembro de 2017, duas crianças foram encontradas esquartejadas no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. As partes dos corpos estavam embaladas em sacolas plásticas e em caixas de papelão em um mato às margens da rua Porto das Tranqueiras.
Segundo a perícia, os corpos são de um menino, entre 8 e 9 anos, e de uma menina, entre 10 e 12. As crianças são irmãs apenas por parte de mãe. Há a suspeita de que elas sejam argentinas, provavelmente da região de Corrientes, e tenham sido trocadas por uma caminhonete roubada.
O suposto ritual teria sido encomendado por dois empresários do ramo imobiliário para atrair prosperidade aos negócios. Os homens, de Novo Hamburgo, teriam pago R$ 25 mil à vista para o bruxo realizar o sacrifício. O homem que se autodenomina bruxo mantinha um templo em Gravataí, onde os rituais seriam realizados. Durante escavações no terreno onde fica a casa, foi localizado um fêmur de um animal.
Uma testemunha disse que viu parte do ritual. Segundo depoimento, ao passar pelo local, ela teria avistado as duas crianças usando capuz. Essa pessoa teria informado ainda à polícia o nome dos sete investigados – seis estavam em um círculo durante o ritual.
Investigações chegaram a incluir “revelações divinas”
Durante as férias do delegado Rogério Baggio, quem esteve à frente das investigações foi o delegado Moacir Fermino, que declarou que chegou aos suspeitos através de “profetas de Deus”. “Foi uma revelação de dois profetas de Deus. Quando eu cheguei na delegacia, um deles me ligou, dizendo que tinha informações e que era para eu pegar um caderno para anotar. Foi uma revelação divina”, destacou o delegado à época. Fermino disse ainda que não podia revelar quem eram esses “profetas”.
Fermino ainda deu detalhes do suposto ritual: “o bruxo falava uma língua estranha que acreditamos que seja aramaico’, destacou o delegado, acrescentando que o menino foi fortemente embriagado antes da morte. Já a menina teria tentado se defender antes de ser executada com facadas. “O bruxo e os envolvidos alegam que não se conhecem, mas temos provas (do contrário)”, garantiu.