Morre dona Eva Sopher, guardiã do Theatro São Pedro

Eva Sopher estava à frente do Theatro São Pedro desde 1975 | Foto: Theatro São Pedro / Divulgação / CP
Eva Sopher estava à frente do Theatro São Pedro desde 1975 | Foto: Theatro São Pedro / Divulgação / CP

Eva Sopher, presidente da Fundação Theatro São Pedro, morreu nesta quarta-feira aos 94 anos. Conhecida pela revitalização do São Pedro após longos anos de decadência, Eva estava internada no Hospital Moinhos de Vento, onde veio a falecer no começo desta noite. Dona Eva, como era carinhosamente conhecida, nasceu em uma família judia na Alemanha em 1923, mas veio com a família para o Brasil em 1936, fugindo da perseguição nazista.
Já em solo gaúcho, assumiu a reforma e a retomada do São Pedro, ficando mais de quatro décadas à frente da casa de espetáculos. Hoje, quem vai frequenta o prédio histórico é recepcionado por uma imagem de dona Eva segurando, simbolicamente, as chaves da casa. Em 2016, sobreviveu a um grave AVC, momento a partir do qual sua saúde foi se debilitando.
Eva deixa duas filhas, quatro netos e sete bisnetos. O velório acontecerá no Theatro São Pedro, entre as 11h e as 18h desta quinta-feira, conforme ela já havia manifestado.
O governador José Ivo Sartori divulgou uma nota de pesar na noite desta quarta-feira. No texto, ele destaca a grande mulher, que dedicou a vida à arte à cultura e que, como legado, deixa a luta pela preservação do São Pedro. O governador vai decretar luto oficial de três dias.
A pedido do Sartori, o secretário da Cultura,  Victor Hug,o conversou com as duas filhas de Dona Eva apresentando condolências em nome do Governo do Estado. Disse também que o governador ofereceu o Palácio Piratini para o ser o local do velório, bem como o Theatro São Pedro. Os familiares disseram que Dona Eva em vida manifestou o desejo de ser velada no São Pedro.
Leia a integra da nota do governo do Estado:
“Acabo de receber a triste notícia do falecimento de dona Eva Sopher. Deixo minha homenagem a essa grande mulher, que dedicou uma vida inteira à arte e à cultura. Como legado, deixa sua luta pela preservação do Theatro São Pedro, o respeito da classe artística de todo o Brasil e o carinho e a consideração do povo gaúcho”
 
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Amor ao Theatro São Pedro
“Eu amo o Theatro São Pedro. Amo este espaço cênico. Foi amor à primeira vista, apesar da condição precária em que o vi pela primeira vez, em 1960. Em 1975, quando fui convidada para coordenar sua restauração, primeiramente recusei – estava demasiado envolvida com outros projetos culturais. Mas meu esposo Wolf convenceu-me com o alerta de que eles então certamente demoliriam o São Pedro, assim como haviam feito com o teatro do outro lado da rua. Neste ponto eu aceitei a tarefa de adotar aquele ‘templo secular’ como parte de minha vida”, contou ela no prefácio do catálogo “Theatro São Pedro: 150 anos – Porto Alegre”.

Nascida em 18 de junho de 1923, em Frankfurt, na Alemanha, Eva Sopher e seus pais fugiram do nazismo para o Brasil nos anos 30. Em 1960, ela fundou em Porto Alegre uma filial da “ProArte Sociedade de Artes Letras e Ciências”, iniciativa que começou em São Paulo e organizava eventos culturais internacionais. Em pouco tempo, o resultado já apareceu e ela conseguiu promover temporadas com até 24 espetáculos do mais alto nível na capital gaúcha. Já com o Theatro São Pedro, a empreendedora cultural instituiu na região um espaço excepcional para artistas locais iniciantes e estrelas internacionais.

Ao longo de sua vida, Dona Eva recebeu diversas homenagens locais por seu trabalho, como os títulos de “Personalidade do Ano” (Porto Alegre) e “Cidadã Honorária do Estado” (Rio Grande do Sul). Mas sua atuação também foi reconhecida internacionalmente e já em 1970 ela foi condecorada pelo presidente da Alemanha por promover difusão cultural entre Brasil e Alemanha com a Bundesverdienstkreuz Erster Klasse (Cruz de Honra ao Mérito da República Federal da Alemanha, Primeira Classe).
 
Dentre as demais distinções que recebeu ainda estão a Ordre des Arts et des Lettres (Medalha de Letras e Artes), na França, e o Prêmio “Preservação da Memória”, no Brasil – entregues, respectivamente, em 1978 e 1995. Em 2015, ela também foi agraciada com a Medalha Goethe, concedida pelo governo alemão a personalidades que se destacaram de maneira especial na promoção do intercâmbio cultural internacional. Em função da idade avançada, que a impediu de fazer uma longa viagem, ela não pôde receber o prêmio pessoalmente.
“Exemplo”
Diretor artístico do Theatro São Pedro, Dilmar Messias exaltou o trabalho de Dona Eva: “Foi uma figura, uma pessoa muito importante para a cultura da cidade. Além da restauração do Theatro São Pedro e da construção do Multipalco, ela deixou uma marca de administração, de cuidado com o público, de cuidado com o espaço cênico. É um exemplo de mulher dedicado à cultura”, afirmou.