Com 1/3 das lavouras comprometido, Bagé raciona água e decreta emergência

Em virtude da falta de chuva que atinge a região da Campanha, o município de Bagé decretou situação de emergência e passou a adotar racionamento de água, nesta segunda-feira. O prefeito Divaldo Lara salienta, além disso, que um terço das lavouras de soja está comprometido. A cidade precisou ser dividida em dois setores, cada um deles recebendo 12 horas por dia de água a fim de amenizar a situação.
Segundo o prefeito, o decreto vai auxiliar os produtores. “Com a racionalização, acaba que eles podem também utilizar melhor a água. Teremos uma economia de 25% no consumo fazendo essa distribuição nos setores da cidade. Por ser uma ferramenta de trabalho e sustento de muitas pessoas da região, sentimos que a Fronteira toda está prejudicada, pois nossas chuvas são oriundas da Argentina, local que também está com escassez de água”, comenta.
Por mais 180 dias, Bagé pode permanecer com o racionamento de água. Segundo informações divulgadas pelo Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé (Daeb) a medida foi tomada em função de a Barragem da Sanga Rasa estar 4,7m abaixo do nível normal. A Barragem do Piraí, outro reservatório da cidade, está 1,5m aquém da normalidade. Dados da Estação de Tratamento de Água (ETA) dão conta de que, em janeiro, choveu apenas 50,5 milímetros, o que corresponde a 46% da média histórica.
Divaldo Lara esclarece que não havia outra alternativa para o município. “Já temos comprometido mais de um terço da principal barragem de nossa cidade. Nos vimos em uma situação de calamidade, em que também não conseguimos enxergar uma melhora. Pois as projeções sugerem uma diminuição da frequência de chuvas no Estado”, completa o prefeito.
Barragem da Arvorezinha é vista como solução
A Prefeitura e o Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé (Daeb) seguem trabalhando para que a obra da Barragem da Arvorezinha, iniciada em 2013, possa ser retomada. Em setembro do ano passado, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS) apresentou relatório técnico, apontando que a estrutura já iniciada pode ser aproveitada. Na prática, o levantamento não identificou problema técnico que impeça a retomada do empreendimento. Dando sequência ao projeto, em outubro, a autarquia lançou edital para contratação da empresa que vai revisar e complementar o projeto executivo. O processo segue em andamento, sem conclusão.
A preocupação com o projeto é pertinente, segundo Divaldo. “A obra da barragem foi embargada em junho de 2013, quando uma operação da Polícia Federal, denunciou empresas que atuavam no empreendimento por suspeita de irregularidades na construção e na fiscalização dos trabalhos. As empreiteiras envolvidas tiveram contas bloqueadas e chegaram a ser proibidas de contratar com o poder público. Em março do ano passado, a juíza federal Louíse Bassan determinou o desembargo do empreendimento. A barragem foi entregue ao município após elaboração de um laudo de constatação de sua situação. Entretanto, somente ela conseguirá nos ajudar a sair dessa situação que acontece de cinco em cinco anos, e estamos lutando para isso”, observa o prefeito.
O desembargo foi anunciado após a realização de uma perícia judicial, que, em 2015, apontou a necessidade de um estudo minucioso sobre a obra, realizado no ano passado. De acordo com informações do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, o empreendimento está orçado em R$ 44.765.840,79. A contrapartida do município é de R$ 4.525.544,14. O governo federal, através da Secretaria de Infraestrutura Hídrica, já liberou R$ 12.419.873,15. A última liberação, formalizada em março de 2012, totalizou R$ 9.168.150,84. O novo prazo não é definitivo, podendo ser novamente prorrogado.