MPF investiga Cristiane Brasil por associação ao tráfico

Foto: Gilmar Felix/Câmara dos Deputados

A deputada federal e ministra nomeada do Trabalho, Cristiane Brasil (PTB-RJ) é alvo de inquérito policial que apura suspeitas de tráfico de drogas e associação para o tráfico durante a campanha eleitoral de 2010. Segundo notícia do jornal Estado de São Paulo, publicada hoje, a investigação foi enviada ontem à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, porque Cristiane possui foro privilegiado. O inquérito também apura suposto envolvimento no caso do deputado estadual petebista Marcus Vinicius, ex-cunhado da parlamentar, e de três assessores de Cristiane na época. Eles são acusados de dar dinheiro a traficantes de Cavalcanti, bairro pobre da zona norte da cidade e uma das bases eleitorais da deputada.
O procedimento foi aberto inicialmente pela Polícia Civil após denúncias encaminhadas por e-mail à Ouvidoria da corporação. O Estadão teve acesso ao teor do inquérito policial. Conforme os denunciantes afirmaram no inquérito, assessores de Cristiane – que na época era vereadora licenciada e comandava uma secretaria municipal do Rio na gestão de Eduardo Paes – pagaram a traficantes para terem o “direito exclusivo” a fazer campanha na região. Cristiane não se candidatou em 2010, mas deu apoio para candidatura de Vinícius – então seu cunhado – à reeleição. Ela se candidatou e foi eleita deputada em 2014.
Cristiane e Vinícius negam todas as acusações. O inquérito investiga também se líderes comunitários foram constrangidos pelos criminosos a fazer campanha eleitoral. Nas denúncias há referências a “Zezito”, apontado como chefe do tráfico de três comunidades localizadas no bairro de Cavalcanti. Cristiane Brasil nunca foi ouvida, apesar de ter sido expedida contra ela, em 29 de setembro de 2011, uma intimação para depoimento. Na semana passada, depois de o jornal pedir acesso aos autos, a investigação foi remetida pela Polícia Civil ao Ministério Público Estadual. E o MPRJ anunciou que o remeteria ao Ministério Público Federal no Rio.
Em 2015, porém, Cristiane, após ser eleita deputa federal em 2014, ganhou direito a foro especial no Supremo Tribunal Federal. Ela foi nomeada há um mês ministra do Trabalho pelo presidente Michel Temer. O objetivo de Temer era obter apoio do PTB à Reforma da Previdência, partido presidido por Roberto Jefferson, pai da deputada e presidente da legenda. Uma série de decisões judiciais, a mais recente da presidente do Supremo, ministra Cármen Lucia, impediu provisoriamente a deputada de tomar posse.
Defesa
O advogado de Cristiane Brasil, André Miranda, disse que o inquérito que investiga sua cliente tem como base uma denúncia “apócrifa”, sem fundamentos. “Tudo isso que está sendo falado é de uma denúncia apócrifa e nada disso foi confirmado no inquérito. Nada deu ensejo a um ajuizamento penal. Até uma pessoa que não existe pode ser acusada de alguma coisa”, disse Miranda. Procurada, a parlamentar não quis dar entrevista.
Por meio de nota, a assessoria do deputado Marcus Vinícius disse que ele prestou esclarecimentos sobre uma “denúncia anônima” e alegou “motivações políticas de algum adversário incomodado com a atuação do parlamentar na região”. Em seu depoimento à Polícia Civil, Vinicius alegou que nunca teve envolvimento com traficantes ou qualquer pessoa ligada a atividade ilícita. Ele admitiu, porém, que, em 2010, esteve em várias comunidades carentes “com o objetivo de fazer campanha política para a reeleição ao cargo de deputado estadual”. Afirmou que durante as visitas “não viu nem entrou em contato com qualquer pessoa ligada à atividade ilícita do tráfico de drogas”.