Hospital Parque Belém luta para tentar reabrir: "Gera tristeza tudo vazio", diz diretor

Com as portas fechadas desde maio do ano passado, o Hospital Parque Belém, localizado no bairro Belém Velho, em Porto Alegre, luta para tentar reabrir e atender a comunidade. Conforme o presidente da Associação Sanatório Belém, Luiz Augusto Pereira, a batalha da diretoria é constante. Sem pacientes e com os amplos corredores vazios, atualmente seis funcionários e alguns voluntários trabalham para manter a área de 15 mil metros quadrados limpa e com os equipamentos em funcionamento. Inaugurado em 1940 a unidade já foi referência na América Latina. Hoje, tem salas amplas e disponíveis, equipamentos de ponta nunca usados a espera de pacientes, mas enquanto há falta de leitos o local segue sem perspectiva de abertura.
Pereira disse que há alguns pequenos reparos que precisam ser feitos na estrutura, mas nada que necessite de muitos investimentos. Os maiores custos são relacionados a equipe técnica, médica e administrativa. “Estamos em contato frequente com a Secretaria de Saúde do Estado e com a Secretaria de Saúde de Porto Alegre. Eles dizem que há dificuldade financeira e não há recursos para novos projetos”, destacou Pereira.
Quanto a possibilidade de reabrir, o presidente afirmou que depende. “Nenhum hospital funciona sem o aval da Secretaria da Saúde da cidade, porque eles têm gestão plena. Sinto que há interesse, mas há o problema econômico.” De acordo com ele o Parque Belém não tem dívida junto a administração.
A saída apontada por ele é a tríplice parceria, entre a associação mantenedora, o poder público e um parceiro interessado em fazer a gestão da unidade. “Estamos em contato com hospitais que tenham interesse em atuar aqui, eles precisam ser privados. Alguns já manifestaram interesse, porém querem garantia que terão custeio público. Será um novo contrato firmado, não conosco, mas com a nova gestora”, afirmou.

Enquanto muitas pessoas agonizam em leitos improvisados em instituições de saúde da capital, o Parque Belém conta com 240 leitos, sendo 20 da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além de cinco salas de cirurgias equipadas, laboratório, e setores ambulatoriais. Em muitos espaços é possível sentir o cheiro de novo.

Pereira falou que a unidade tem capacidade de realizar cerca de 50 cirurgias de média complexidade por dia. “Temos uma sala de cirurgia inteligente que serve também para o ensino, que nunca foi utilizada. O médico realiza o procedimento minimamente evasivo através dos visores dispostos no espaço, além disso, toda ação pode ser transmitida para estudantes, por exemplo”, detalhou. Sem fios e com alta tecnologia, pode operar até seis pacientes em um único turno (isso pode variar conforme o tipo feito).
O responsável técnico pelo Parque Belém, o técnico em radiologia Sideral Fernandes Cordeiro, afirmou que semanalmente vai até a unidade para ligar os equipamentos e garantir que sigam funcionando, enquanto a infraestrutura não é reaberta. “Gera tristeza ver todas as salas, os espaços vazios”, lamentou. Pereira salientou que a expectativa é que ele volte a funcionar. “Eles não estão sendo utilizados para beneficiar a comunidade, estão sendo ligados para não estragar. Obsoletos, por enquanto não ficam”, disse.
Instituição endividada
Responsável por gerir a Secretaria da Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim, afirmou que sempre houve um diálogo com a mantenedora do Hospital Parque Belém. Ele lembrou que o rompimento da prestação de serviços para o município aconteceu em dezembro de 2015. “O contrato foi interrompido ainda na gestão anterior. Como a instituição está endividada, ela não tem as credenciais suficientes para prestar os serviços, então a única possibilidade para reabertura, neste momento, é outro grupo gestor assumir”, expressou. Harzheim detalhou que já houve diversas manifestações de interesse de outros grupos, porém nada de concreto foi formalizado. “Seguimos abertos para ouvirmos interessados, mas por enquanto não temos nenhuma novidade. Segue tudo na mesma situação”, garantiu.
O secretário disse que a principal demanda em Porto Alegre é a ortopedia e a cirurgia geral. “Essa é a nossa necessidade, mas tem que ter prestador privado que tenha experiência e competência comprovada para essas duas linhas.” Ele lembrou que alguns dos equipamentos do Parque Belém foram obtidos através de emendas parlamentares. “Eles foram colocados para atender o Sistema Único de Saúde (SUS) e sei que o Tribunal de Contas da União está verificando essa situação, já que a unidade está fechada sem atender o SUS.”
O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, revelou que, ao contrário do Hospital Beneficência Portuguesa, a gestão da unidade do bairro Belém velho não ajudou. “Num ato de grandeza, o gestor do Beneficiência pediu demissão, o que facilitou toda a negociação e a prefeitura passou a rever a posição dela”, destacou. Mendes disse que há equipamentos novos e de excelente qualidade que não podem ser utilizados pela comunidade. “O processo de reabertura de leitos no Beneficiência Portuguesa nos entusiasma, já que podemos retomar a luta pelo Parque Belém.”
Para o sindicalista não há sentido ter doentes nos corredores dos hospitais, enquanto há um prédio ocioso, com leitos, Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e infraestrutura para atender tantas pessoas de diversas cidades do Estado.
“Aquilo pertence à comunidade, além de ser de uma associação. Isso porque o hospital tem função social.” A necessidade de leitos psiquiátricos para a área infantil, segundo ele, é cada vez uma maior necessidade. “Há falta leito para criança. O Parque Belém poderia ter uma ala destinada para essa finalidade. A vitória da Beneficência nos motiva. Nós estamos com pessoas morrendo por falta de leito e fazendo uma legião de aleijados”, informou.
Mendes explicou que um osso tem de oito até 10 dias para ser colocado no lugar, em caso de fratura, senão consolida fora. “Quando o paciente consegue consulta, o profissional olha e não tem o que fazer. Nessa situação, uma pessoa produtiva, chefe de família, passa a ser um dependente do INSS. Um encostado. Sendo que há leitos disponíveis em uma ampla estrutura, como no Parque Belém.”