A funcionária de uma creche particular de São Sebastião do Caí – que foi flagrada, por câmeras de segurança, pressionando um travesseiro contra o rosto de uma criança de dois anos – deve ser indiciada por tentativa de homicídio qualificado. O inquérito da Polícia Civil deve ser finalizado até a próxima segunda-feira.
“Vamos terminar de ouvir as testemunhas, concluir as investigações e apresentar o relatório ao Judiciário. A princípio vamos instaurar o inquérito (contra a funcionária) por tentativa de homicídio qualificado”, explicou o delegado responsável pelo caso Marcos Eduardo Pepe.
A monitora, de 23 anos, foi presa na última sexta-feira após a diretora apresentar à Polícia imagens da agressão. A jovem trabalhava no local há cerca de um ano. O delegado suspeita que outras crianças também tenham sofrido maus-tratos já que, em depoimento, a funcionária disse que a “técnica do travesseiro” era uma orientação da diretora. De acordo com o delegado, de 30 a 40 crianças, entre um e quatro anos, ficavam no local.
“Três pais nos procuraram para relatar outros episódios, que para eles pareciam acidentes e não eram vistos como maus-tratos. Contudo, depois do caso vir à tona, perceberam que poderiam se tratar de agressões”, explicou Pepe. Os pais da criança, de 2 anos, que aparece no vídeo sofrendo agressões, contaram à Polícia que toda vez que colocavam a menina na cadeira de segurança do carro ela chorava, achando que ia para a escola. “Eles ficaram revoltados”, disse.
Diretora teria pago R$ 50 para técnico apagar as imagens
No inquérito, a diretora deve ser indiciada por fraudes processuais. Ela é investigada por mandar apagar outras imagens registradas pela câmera de segurança da escola. A Polícia Civil chegou a prendê-la na segunda-feira, contudo, por decisão da 1ª Vara de Judicial de São Sebastião do Caí, ela foi solta 24 horas depois.
De acordo com Pepe, a Polícia solicitou – ainda na sexta-feira – outras imagens das câmeras de segurança à diretora, que se prontificou a levar as gravações na primeira hora da segunda. Contudo, ela não apareceu. Os policiais foram até a creche e encontraram a mulher acompanhada de duas advogadas. “Ela disse que sem mandado de busca e apreensão ninguém poderia entrar lá”.
Após negociações, ficou decidido que, no início da tarde, um técnico de informática extrairia as imagens – o processo deveria ser acompanhado pela polícia. Quando os agentes chegaram ao local, a diretora havia contratado um técnico particular e as imagens já haviam sido extraídas. Em análise ao HD, foi constatada que as gravações foram apagadas.
Contudo, os últimos minutos das gravações permaneceram salvos e a Polícia conseguiu identificar o carro do técnico que foi até a escola. “Primeiro ele negou, depois disse que a mulher teria oferecido a ele R$ 50 para apagar tudo”, explicou o delegado. O técnico também foi preso, mas já está em liberdade.
Prefeitura rompe contrato
Em nota, a prefeitura de São Sebastião do Caí informou que rompeu o contrato com a creche. Apesar de ser uma instituição particular, crianças vinculadas ao município estavam no local no período de recesso escolar. “Todas as crianças que estavam na instituição em vagas contratadas pelo município foram de lá retiradas e já realocadas em outras escolas ou casas de familiares, sem nenhum tipo de prejuízo aos pais e seus filhos”, garantiu a prefeitura.
Leia a íntegra da nota
“A Prefeitura de São Sebastião do Caí vem a público informar que, assim que tomou conhecimento das denúncias envolvendo uma escola particular de Educação Infantil onde mantinha vagas pagas no período de recesso escolar, adotou todas as medidas necessárias para preservar e garantir a integridade de todas as crianças de sua responsabilidade ali atendidas.
A primeira delas foi o rompimento unilateral do contrato que tinha com a creche em questão. Além disso, todas as crianças que estavam na instituição em vagas contratadas pelo Município foram de lá retiradas e já realocadas em outras escolas ou casas de familiares, sem nenhum tipo de prejuízo aos pais e seus filhos. A Administração Municipal deixa claro estar acompanhando e colaborando com as investigações da Polícia Civil sobre o caso e que dará toda a assistência necessária, inclusive psicológica no caso de necessidade, a criança que teria sido agredida e sua família.”
Acompanhe o caso
No dia 11, a diretora foi até a Polícia Civil fazer uma denúncia sobre um ato de maus-tratos que teria acontecido no dia 10. Com base nas imagens – que mostram uma funcionária pressionando um travesseiro contra o rosto de uma criança – a Polícia Civil pediu a prisão preventiva da monitora.
Em depoimento, a jovem disse ao delegado para tentar ver as outras imagens. “Têm mais coisas”, contou a presa ao delegado, que então pediu a diretora as gravações. “Ela se prontificou a nos entregar na primeira hora de segunda-feira. Contudo não apareceu”, disse.
Na segunda-feira, a diretora teria pago R$ 50 para um técnico apagar as imagens. O HD entregue a Polícia já foi encaminhado ao Instituto-Geral de Perícias que tentará recuperar os arquivos. A mulher e o técnico foram presos e, 24 horas depois, liberados pela 1ª Vara Judicial do Município.
Na terça-feira, a Susepe informou à Polícia que a monitora seria encaminhada à Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, “por questões de segurança”.
O inquérito deve ser finalizado até segunda-feira – quando completa dez dias da prisão da suspeita.