Advogado de líder de seita suspeita de matar crianças em NH fala que processo é 'vazio e tendencioso'

A defesa do líder da seita investigada pela suposta participação na morte e esquartejamento de duas crianças em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, teve acesso, nesta quinta-feira, aos documentos do inquérito. Conforme o advogado do acusado, Marco Alfredo Mejia, mesmo antes de ter acesso ao inquérito, na quarta-feira, a defesa já havia encaminhado à Justiça o pedido de liberdade. A expectativa do advogado é de que haja um posicionamento do Poder Judiciário sobre o pedido na próxima segunda-feira.
“Queremos ver mais provas técnicas que no processo não estão. Na verdade não tem nada. Assustadoramente não tem nada. Eles estão baseando toda a investigação e a acusação em duas testemunhas que não dizem praticamente nada. É uma acusação leviana, na verdade”, disse Mejia. Segundo ele, o processo é muito carente de provas. “Eles (delegados) querem levar a acusação pelo fundo religioso. A prisão é totalmente injusta”, ressaltou.
Conforme Mejia, o cliente dele se mostra “completamente apavorado”. “Ele é inocente, nunca matou ninguém. Não tem um resquício de sangue na casa dele. Todos os vizinhos conheciam ele e não tinham nada de ruim para falar. Infelizmente preciso dizer que é um processo tendencioso, com cunho religioso e falso”, destacou.
“E outra coisa, volto a ressaltar que, se as crianças envolvidas no caso são argentinas, é preciso que a questão seja encaminhada à Justiça Federal. Fizemos este pedido à juiza ontem, pedimos que ela remeta o processo para o âmbito Federal, pois estamos falando de crianças estrangeiras”, relatou.
Para Mejia, não existe qualquer informação que ligue o cliente dele ao crime pelo qual está sendo acusado. “É um dos processos mais vazios da minha vida. Parece apenas uma narrativa, uma crônica policial. Pessoas inocentes estão sendo acusadas apenas por duas testemunhas e por indícios vazios”, finalizou.
Delegado espera perícias e pede mais prazo
O titular da Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo, delegado Rogério Baggio, disse que segue em busca de provas técnicas sobre o envolvimento dos suspeito no crime. “Solicitei diversas autorizações judiciais e também perícias que não haviam sido solicitadas ainda. Precisamos de provas incontestáveis”, afirmou.
Uma das autorizações judiciais solicitada pelo delegado pede acesso a arquivos de celulares. “Se for autorizado, vamos realizar uma perícia para ter acesso a fotos, conversas, áudios e vídeos que estão nos aparelhos ou que já foram apagados”, detalhou.
Conforme Baggio, uma prova incontestável é, por exemplo, localizar o sangue de alguma das duas crianças na capa apreendida no templo. “Se for encontrado sangue de alguma das crianças na capa, está comprovado que teve uma ligação”, ressaltou. “Estou na busca dessas provas”, reconheceu.
Baggio já pediu a prorrogação de prazo para a finalização do inquérito. Segundo ele, é possível que o retorno da Justiça ocorra nas próximas horas. “É necessário prorrogar o prazo, não é qualquer crime e não é qualquer acusação. Se eles são culpados, que respondam por isso”, destacou.
Baggio minimizou as críticas do advogado do líder da seita e disse que esse “é o papel da defesa”. “Para se decretar uma prisão temporária, é necessário ter indícios. Para uma prisão preventiva, precisamos apresentar prova da materialidade e indícios de autoria. Ambas foram decretadas pelo Poder Judiciário, então nós temos estas provas. Foi o suficiente para as medidas adotadas até agora”, explicou.
Agora, de acordo com Baggio, a Polícia Civil precisa desvendar o fato. “Eu não quero culpar ninguém. Se for descoberto que eles não têm envolvimento, vou colocar isto no meu relatório. Se eles foram os responsáveis, também estará lá”, disse.
Baggio enfatizou que até o momento não há novidades na investigação. “Por enquanto não temos novas provas e também não tivemos novas prisões. Estamos realizando diligências diariamente, através de duas delegacias, com o objetivo de buscar ainda mais provas para o caso”, informou.
Delegado Fermino segue na investigação
O delegado Moacir Fermino, que substituiu Baggio durante as férias, ainda participa das investigações: “Algumas informações só estão repassando para ele, por questão de confiança. Então ele continua auxiliando nesse sentido e continua fazendo diligências para comprovar todas as informações que chegam”. Declarações dele provocaram polêmica no início da semana. Fermino disse que recebeu uma “revelação divina” para concluir que havia ligação entre a morte das crianças e um ritual macabro;
Ontem, Baggio disse que é preciso respeitar o direito de cada um de ter uma religião. Além disso, salientou que a população precisa entender que os “profetas” que Fermino citou são, na verdade, informantes que ajudaram a elucidar o trabalho da Polícia, embora não atuando formalmente como testemunhas do caso.
Hoje, o delegado titular reiterou que segue uma linha mais técnica. “Não estou julgando o trabalho de ninguém, mas até o momento temos uma prova testemunhal e diversos indícios. Foram apreendidos documentos, fotografias e outros materiais que corroboram com as informações repassadas. Agora precisamos de provas técnicas incontestáveis para finalizar o inquérito”, concluiu Baggio.