Deflação dos alimentos deixou inflação abaixo do piso da meta, revela Goldfajn

A maior queda no preço dos alimentos em quase 30 anos puxou a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para baixo do piso da meta, em 2017, pela primeira vez na história, desde 1999. Foi o que informou o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn. Em carta aberta para explicar o descumprimento do intervalo mínimo da meta, Goldfajn disse que o Banco Central foi surpreendido pelo comportamento dos preços dos alimentos no domicílio.
Nesta quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA encerrou o ano passado em 2,95%, abaixo do piso de 3%. Para 2017, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tinha fixado a meta de inflação em 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual, o que permitia um intervalo entre 3% e 6% sem acarretar o descumprimento da meta.
“Em 2017, a reversão da inflação nos preços dos alimentos no domicílio foi maior do que o previsto, tanto pelo Copom [Comitê de Política Monetária] quanto pelos analistas do mercado”, salienta Goldfajn na carta.
Segundo o Banco Central, a inflação do subgrupo alimentação no domicílio fechou 2017 com deflação (recuo de preços) de 4,85%, a maior para esses itens desde o início da série histórica do IPCA, em 1989. Excluindo os alimentos, o índice do ano passado fechou em 4,54%, próximo do centro da meta.
Fatores externos
O presidente do Banco Central classificou de excepcional o comportamento dos preços dos alimentos em 2017. Segundo Goldfajn, a forte retração decorreu de fatores fora do controle da política monetária, como as safras recordes, que elevaram a oferta de alimentos no mercado interno. Para Goldfajn, a autoridade monetária não cortou mais os juros para compensar a queda nos preços dos alimentos porque não cabe a ela reagir a eventos externos.
“Não cabe inflacionar os preços da economia sobre os quais a política monetária tem mais controle para compensar choques nos preços dos alimentos. A política monetária deve combater o impacto dos choques nos outros preços da economia (os chamados efeitos secundários), de modo a buscar a convergência da inflação para a meta”, destacou o documento.
Evolução
Para 2018, o BC informou que vai seguir nivelando a taxa Selic (juros básicos da economia) para cumprir as metas de inflação estabelecidas pelo CMN. Para este ano, a meta para o IPCA também está em 4,5%, podendo oscilar entre 3% e 6%. Atualmente, a Selic está em 7% ao ano, no menor nível da história.
Pela legislação, toda vez que a inflação fecha um ano abaixo do piso ou estourando o teto da meta, o presidente do BC é obrigado a escrever uma carta aberta explicando os motivos que levaram ao descumprimento. A última vez em que uma carta do tipo foi divulgada tinha sido em 2015, quando o índice oficial fechou o ano em 10,67%, acima do teto de 6,5% estabelecido para aquele ano.