“Não engoli a decisão do Alexandre de Moraes”, diz Bolsonaro em entrevista à Rádio Guaíba

Presidente vê suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem como afronta e pede coerência a ministro do STF para evitar crise institucional

Foto: Marcos Corrêa / PR / CP

Pouco antes de embarcar em direção a Porto Alegre, onde participa nesta quinta-feira da troca de liderança no Comando Militar do Sul, o presidente Jair Bolsonaro concedeu entrevista exclusiva ao programa Bom Dia da Rádio Guaíba. Em sua fala, o chefe de Estado voltou a criticar o ato do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que decidiu suspender a nomeação e a posse de Alexandre Ramagem na direção-geral da Polícia Federal.

“Eu questionei o ministro do STF Alexandre de Moraes sobre a liminar que impediu o senhor Ramagem de tomar posse na Polícia Federal. O que eu cobrei dele? Que tome uma posição no tocante ao senhor Ramagem porque ele continua à frente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e a agência é tão importante quanto à Polícia Federal. É a mesma coisa que eu falar para você que pode ser sargento do Exército, mas não pode ser da Aeronáutica, por questões pessoais. Estou cobrando dele, até porque eu respeito a Constituição e vou fazer de tudo para que ela seja valorizada, agora outros ministros e outras autoridades precisam fazer a mesma coisa. Tudo tem limite. Esta decisão do senhor Alexandre de Moraes, não engoli ela no dia de ontem, é uma afronta à pessoa do presidente da República”, disse Bolsonaro.

O presidente ainda citou que Alexandre de Moraes levou em conta a questão da impessoalidade para impedir a nomeação do diretor-geral da PF. “O senhor Ramagem eu conheci no segundo turno das eleições, depois da troca de delegados e de comando da PF. O quadro do senhor Ramagem é especialíssimo, é o que a PF tem de melhor. É uma pessoa que conversava comigo, que tomava café comigo. Daí, o senhor Alexandre de Moraes alegou questões de familiaridade. Estou cobrando do ministro uma posição se o senhor Ramagem pode continuar na Abin ou não, se ele deve ir para uma quarentena, se isolar, já que ele não serve para trabalhar pela nação. Se ele não serve para ser diretor da PF, não serve para ser diretor da Abin. É uma questão de coerência, até para evitarmos uma crise institucional. Não serei um presidente refém de decisões monocráticas de quem quer que seja”, completou.

Ainda nessa quarta-feira, Bolsonaro garantiu que irá recorrer da suspensão da nomeação de Ramagem. A declaração do chefe de Estado acabou desautorizando a Advocacia Geral da União, que anteriormente havia afirmado que não iria apresentar recurso.

Pandemia 

O presidente Jair Bolsonaro considerou que parte da imprensa usa suas declarações para fazer um carnaval em torno da pandemia do novo coronavírus. “Para 80% da população não vai ser nem uma gripezinha, não vai ser nada, não vai nem saber que teve. Os 15%, 20% restantes precisam tomar cuidado. Talvez eu tenha pego este vírus no passado e nem senti”, afirmou.

Ao falar do isolamento social, Bolsonaro reiterou que a medida partiu de governadores e prefeitos, além do STF. “Quem fez o isolamento horizontal foram governadores e prefeitos. Quem decidiu isso foi o Supremo Tribunal Federal. Então, com todo o respeito ao governador do Rio Grande do Sul (Eduardo Leite) e aos senhores prefeitos, mas foram eles que decidiram. Se tem algo de errado, é preciso rever. Se acham que estão certos, continuem. Eu não posso fazer nada. Nós demos recursos para todos governadores e muitos prefeitos. Eu fiz a minha parte e não vou interferir em nada. Vocês acreditam nos números do Brasil? Tem prefeito, tem gente, que está potencializando o número de óbitos para justificar as medidas restritivas que eles tomaram”, argumentou.

Questionado sobre a apresentação do teste que realizou de coronavírus, Bolsonaro disse que essa questão pertence a intimidade dele e que já havia dito que a doença não o tinha acometido.

Plano econômico

Bolsonaro explicou que um estudo econômico, intitulado de “Plano Marshall”, ainda está sendo estudado para que auxilie na retomada econômica do país. Segundo o presidente parte da imprensa quis desqualificar o que vem sendo feito e apresentou como sendo um plano sem consentimento do ministro Paulo Guedes. “Não ouve plano nenhum. É um estudo e nada mais do que isso. “A linha do Paulo Guedes é a linha que eu sigo. Eu não falo pelo Paulo Guedes, mas o Paulo Guedes fala por mim no tocante a economia e ponto final”, afirma.

Retomada do futebol

O presidente também confirmou que conversou com o técnico do Grêmio Renato Portallupi para saber o sentimento dos jogadores com a possível retomada dos campeonatos em meio a pandemia de coronavírus. “Eu liguei algumas vezes para o Renato Gaúcho para ter informações dele do que pensa o atleta no tocante a voltar o futebol. A decisão de voltar o futebol não é minha. No que depender de nós, eu já conversei com o ministro da saúde, que emita um parecer para que o futebol volte sem torcida”, afirma.